| CRÍTICAS | Gigolo Profissional

A transição de século e de milénio foi uma altura estranha, com muita coisa a acontecer que não tem explicação científica. Na altura ninguém reparou porque estava tudo com medo do bug do y2k – e porque ninguém falava ainda do Mercúrio retrógrado -, mas agora olhamos para trás e questionamo-nos: como é que foi possível? Como é que tolerámos que, durante meia dúzia de anos, gente como Brendan Fraser e Rob Schneider tivessem uma carreira de sucesso?

Enquanto parece que o primeiro vai ser reabilitado por Darren Aronofsky, debrucemo-nos sobre o segundo. Com uma carreira até então errática dividida entre papeis aleatórios em filmes de acção (Embate, com Van Damme, e A Lei de Dredd, com Stallone) e papeis secundários nos filmes de Adam Sandler, Rob Schneider salta para a ribalta ao estrelar, em 1999, neste Deuce Bigalow: Male Gigolo. O sucesso de bilheteira permite-lhe protagonizar mais uma carrada de comédias javardas, incluindo uma sequela deste, até que toda a gente percebeu que tínhamos que deixar de dar dinheiro a esta gente e ele desapareceu. Então porque estamos a falar de Deuce Bigalow: Gigolo Profissional? Por duas razões: primeiro, porque é preciso não esquecer a história para que ela não se volte a repetir; e segundo, porque estava a dar na televisão.

Rob Schneider é então um falhado limpador de tanques e aquários, especialista em peixes, que, por uma sucessão de episódios aleatórios, vai acabar por ficar a tomar conta da casa do prostituto profissional, Antoine (Oded Fehr), enquanto este vai em serviço à Europa. Claro que até pegar fogo à sua mansão e destruir um aquário de milhares de dólares passam apenas um par de cenas e, por isso, resta a Schneider seguir a mesma carreira de Antoine, se bem que o seu estatuto o leva a clientes… diferentes.

De uma só pernada, Deuce Bigalow: Gigolo Profissional consegue gozar com os cegos, com os gordos, com os coxos, com os que sofrem de narcolepsia e com os que têm Síndrome de Tourette escondido sobre a capa bem intencionada de que só quer mostrar que o amor verdadeiro está lá dentro e não interessa como és por fora. E se aquela nossa faceta imatura e vulgar ainda nos faz sorrir sempre que alguém grita what a huge bitch quando está em cena uma das suas clientes gigante (e que é, na verdade, Torsten Voges), a verdade é que rapidamente começamos a sentir-nos constrangidos. O próprio Adam Sandler, responsável por produzir o filme, considera este um dos seus poucos trabalhos que renega. E olhem que Sandler fez muito lixo…

Mas o mais incrível disto tudo não é o humor desavergonhado de Deuce Bigalow: Gigolo Profissional. É mesmo a representação de Rob Schneider, que faz uma careta sempre que há uma piada que é uma referência sexual subentendida (que, basicamente… são todas), como se estivéssemos num episódio estendido de Os Malucos do Riso ou numa adaptação de Hollywood de uma revista à portuguesa. No meio de tanto estereótipo, até o Happy Meal que leva no final é um também: Deuce Bigalow: Gigolo Profissional é uma daquelas comédias que só quem caiu de cabeça quando era bebé tem nos seus filmes favoritos de sempre.

Título: Deuce Bigalow: Male Gigolo
Realizador: Mike Mitchell
Ano: 1999

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