Perante o enorme sucesso de Tubarão, o mítico produtor Dino De Laurentis teve uma magnífica ideia: aproveitar o ímpeto e fazer um filme sobre um animal marinho ainda mais terrível que predador dos mares. E o único bicho capaz de matar um tubarão branco era uma orca. Mesmo que isso implique que o filme tenha o título ridículo de… Orca – A Fúria dos Mares.
Orca – A Fúria dos Mares está, portanto, ao nível de outros filmes do género, como aquela banhada do tubarão gigante que dá saltos e abate aviões que vão a passar. Mas a diferença é que este leva-se a sério. Tão a sério que Ennio Morricone foi contratado para compor a banda-sonora, com uma xaropada que passa quase em loop, mas que serve para provar que é um verdadeiro autor. Morricone não tem pejo de trabalhar em qualquer filme, seja ele um épico como Era Uma Vez Na América, seja numa alarvidade como a sequela de que nunca ninguém se lembra de O Exorcista.
O primeiro objectivo de Orca – A Fúria dos Mares era ser melhor que Tubarão. Por isso, o filme começa com uns caçadores de tubarões que tentam salvar um mergulhador que, como profissional experiente que é, caiu do bote e não consegue subir de volta. E quando este está quase a ser devorado, eis que surge uma orca que dá uma cabeçada no lombo do tubarão(!), que dá um salto para fora de água(!!) e se desfaz em sangue(!!!). Juro que é mesmo isto que acontece!
Posto isto, arranca o filme. Primeiro com uma aula extensiva sobre a orca: um animal muito forte, com um cérebro com mais ligações que o do Homem, que comunicam entre si, são fiéis a uma só companheira em vida e, atenção a este ponto, tem o instinto de vingança. É que depois, o tal caçador de tubarões, Richard Harris, vai caçar uma orca, mas engana-se e mata uma fêmea que, por azar, estava prenhe e, coincidência, pare um feto subdesenvolvido no exacto momento em que é içada para o interior do barco. O macho assiste a tudo e jura vingança, num mítico plano em que grita para o céu (juro!) e onde o Van Damme se inspirou para os seus filmes, certamente. They mess with orca’s husband. Big mistake!
A partir daqui, a orca macho vai perseguir Richard Harris com uma obsessão doentia de vingança, que inverte os papéis do clássico de Herman Melville, Moby Dick. E sempre que se cruzam há uns planos lindos dois dois a olharem-se, que inclui um grande plano do olho da orca raiado de sangue e a brilhar de vingança. E o giro é que é sempre o mesmo plano, mas dá para todas as cenas. A orca vai então matar os amigos de Richard Harris um a um, arrancar uma perna à então estreante Bo Derek, afundar os barcos dos seus colegas e até explodir-lhe a casa(!) até ao duelo final, mano a mano. A orca é tão inteligente que parece que estamos a ver o Sozinho em Casa, com o bicho a preparar uma série de armadilhas para o inimigo.
Ao contrário de Tubarão, que era um filme sobre um tubarão em que mal se via o animal, Orca – A Fúria dos Mares é um filme em que se vê demasiadas vezes a orca. Seja em momentos BBC Vida Selvagem, seja em planos subaquáticos aleatórios de orcas. E estas cenas não servem só para encher. Servem também para o desenvolvimento emocional da personagem da orca. A sério! Orca – A Fúria dos Mares é tão maravilhosamente mau que é impossível reter uma lágrima de felicidade. Orca – A Fúria dos Mares é um Royale With Cheese de bom mau cinema. Xungaria trash no seu melhor!
Título: Orca
Realizador: Michael Anderson
Ano: 1977