Um Lugar Silencioso serviu sobretudo para nos lembrar que damos o som no cinema por garantido, quando ele é uma das ferramentas mais essenciais para o sucesso de um filme. Recorrendo ao cinema de género – o terror e o sub-género do filme de criatura -, (o também improvável) John Krasinski introduzia-nos umas criaturas primas do xenomorfo, mas extremamente sensíveis ao ruído, capazes de ouvir uma árvore a cair na floresta mesmo quando não estava ninguém presente. De repente, a solução era só uma: fazer o menos barulho possível ou ser comido.
O sucesso de Um Lugar Silencioso tornou inevitável uma sequela, o que é mais do que normal em Hollywood, habituados a sugar até ao tutano qualquer coisinha que possam capitalizar até à exaustão. Menos expectável for ver John Krakinski regressar para realizar, o que dá alguma segurança a Um Lugar Silencioso 2. Afinal de contas, não havia aqui o perigo de vir alguém de fora atraiçoar a visão do seu criador.
Um Lugar Silencioso 2 começa com um prólogo que remonta ao início de tudo, explicando a origem de tudo e como é que chegámos ao cenário pós-apocalíptico do filme anterior. Essa pequena introdução permite também a John Krasinski regressar à sua personagem, que havia morrido no episódio anterior, numa espécie de Guerra dos Mundos meets Aliens – O Reencontro Final. Depois de explicada a coisa, o filme salta até onde nos havia deixado em Um Lugar Silencioso e partimos em aventura juntamente com Emily Blunt e os seus filhos.
Desta vez já não há a “surpresa” do primeiro filme e, como tal, Um Lugar Silencioso 2 não se deixa levar pela tentação de se repetir. Desta vez abraça com os dois braços o filme de criatura e afirma-se assim mesmo, sem complexos, como um óptimo filme de terror, mantendo uma certa economia narrativa e tudo, prestando tributo ao cinema xunga do qual é um primo bastardo. John Krasinski é substituído por Cillian Murphy, que assume aqui a figura paternal daquele núcleo familiar em perigo (Spielberg ficaria satisfeito), e o argumento divide-se em dois rumos: um que segue Murphy e Millicent Simmonds em busca de um sinal de rádio que parece trazer alguma esperança de encontro com a humanidade; e outro que se mantém com Blunt, Noah Jupe e o bebé em total silêncio, para não atrair a bicharada. No final, não existem surpresas de maior nem jump scenes para nos sobressaltar, mas Um Lugar Silencioso 2 é suficientemente eficaz para que mandemos vir um McChicken, sem estragar o filmaço que foi o anterior.
Título: A Quiet Place 2
Realizador: John Krasinski
Ano: 2020