| CRÍTICAS | A Miúda do Lado

Imaginem que a Mia Khalifa – ou a Traci Lords, caso vocês sejam da minha geração – se mudava para a casa ao lado da vossa. A premissa é interessante, especialmente se estamos a falar de jovens com as hormonas aos pulos. Por isso, era uma questão de tempo até um qualquer teen movie pegar nesta ideia. Foi o que aconteceu em 2004, com A Miúda do Lado.

Emile Hirsch é assim um jovem finalista, a tentar garantir uma bolsa de estudo que lhe pague a entrada na faculdade dos seus sonhos, que, certo dia, vê a Elisha Cuthbert a mudar-se para a casa ao lado da sua. Rapidamente os dois travam uma amizade que escala ainda mais rápido para uma relação amorosa, até Hirsch descobrir que ela é actriz porno. Depois, já sabemos como a coisa evolui: primeiro vem a fase da negação; depois a fase do confronto e vingança; e, finalmente, as pazes e a realização de que está tudo bem.

Ou então não. É que, para um teen movie com tantas hormonas aos saltos e humor escatológico, A Miúda do Lado é um filme extremamente condescendente e moralista. Afinal, o porno é mesmo uma coisa má e Emile Hirsch vai passar o filme todo a tentar salvar Elisha Cuthbert. E é esta que há de se convencer que estava errada e há de deixar tudo para uma vida doméstica ao lado do marido, de acordo com os bons costumes e valores da família.

A Miúda do Lado é assim um filme desonesto, que promete uma coisa – uma comédia juvenil javarda (isto é um elogio), na tradição do American Pie – A Primeira Vez – e que, afinal, é absolutamente o seu oposto. Mas os seus problemas não se ficam por aí. Há de transformar no bom da fita um produtor de filmes porno (James Remar) de poucos escrúpulos e há de enfiar à força um subplot com um estudante de intercâmbio do Camboja, para o qual é preciso arranjar dinheiro para lhe pagar a vinda, para brincarem à caridadezinha. No final, o que sobra é um rip-off mais ou menos assumido de Negócio Arriscado (curiosamente, o filme começou por ser um remake do filme que fez de Tom Cruise Tom Cruise), mas completamente higienizado.

Há ainda outro problema em A Miúda do Lado e nem estou a falar da falta de graça. Falo antes do miscast que é todo o elenco, começando por Elisha Cuthbert (quem?), cuja ideia de representação se limita a fazer boquinhas e a semi-cerrar os olhos, passando por Emile Hirsch, que parece uma criança a vestir-se como alguém mais velho do que é (parece?) e terminando em Timothy Olyphant, que com o dobro da idade de todos os outros protagonistas, não consegue escapar ao rótulo de chulo daquela gente (talvez porque o é).

É então tudo mau em A Miúda do Lado? Obviamente que não. Nenhum filme é 100 por cento inútil, já que servem sempre de mau exemplo. Além disso, há uma boa cena, em que Emile Hirsch vai a uma casa de strip e encontra um amigo dos pais, com quem acaba a ter uma lap dance enquanto trocam frases de conveniência sobre a vida. Tudo o resto é tão inútil quanto um Happy Meal

Título: The Girl Next Door
Realizador: Luke Greenfield
Ano: 2004

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