| CRÍTICAS | A Grande Escavação

Eis os três maiores arqueólogos do mundo, de acordo com o cinema:
1º lugar – Indiana Jones, que descobriu artefactos tão valiosos quanto o Santo Graal ou a Arca do Triunfo;
2º lugar – Lara Croft, responsável por desvendar todos os segredos eternos dos Illuminati;
3º Lugar – Basil Brown, que escavou aquele que é o maior achado arqueológico britânico de sempre e um marco fundamental para estudar os anglo-saxões medievais.
Destes três, o último tem a desvantagem de ser o mais aborrecido de todos (nunca socou um nazi ou derrotou mercenários no Camboja), mas, por outro lado, pode-se gabar de ser o único que existiu mesmo.

Basil Brown foi interpretado por Ralph Fiennes em A Grande Escavação, a produção Netflix que procura repor a verdade dos factos e dar ao antigo arqueólogo inglês os méritos que merece. É que, por nunca ter tido formação académica, Brown acabou sempre por ser riscado dos livros de História, algo que tem começado a ser alterado muito lentamente nos últimos anos. A Grande Escavação conta então a forma como Basil Brown foi contratado por Edith Pretty (Carey Mulligan), uma viúva entusiasta da arqueologia, para escavar a sua propriedade e acabou descobrindo um incrível barco enterrado, em óptimo estado, com uma recheada câmara funerária no interior.

A Grande Escavação é assim uma história sobre a amizade de duas pessoas muito diferentes (Edith Pretty era da classe alta, tinha dinheiro para dar e vender e movimentava-se nos círculos sociais mais respeitados de Londres, enquanto que Basil Brown era um intelectual auto-didata, de origens modestas), mas com valores em comum. E, durante meia hora, a química que se desenha entre Fiennes e Mulligan mantém o filme a carburar e a queimar etapas com grande eficiência.

No entanto, tudo isto não é mais do que a preparação para um filme que mais não é do que uma reflexão sobre a passagem do tempo. Aliás, a arqueologia é precisamente a metáfora perfeita para falar disso. Além disso, a Segunda Guerra Mundial, que está prestes a rebentar (o ano é o de 1938), é ainda um óptimo pretexto para rimar com este reflexão e há de surgir um primo, Rory (Johnny Flynn), prestes a ser chamado para integrar as fileiras da RFA, que vai encarnar esse medo da morte prematura. Há ainda um subplot com a jovem Peggy Piggott (Lily James), com dúvidas sobre o seu casamento, outra instituição que tem tudo a ver com a passagem do tempo. É que até que a morte nos separe é mesmo muuuuito tempo.

A Grande Escavação é, portanto, um drama bastante interessante, filmado por Simon Stone de forma livre, recusando qualquer formalidade ou protocolo do cinema de época de prestígio britânico, o que seria de esperar de um elenco com tanta britishness. E dá ainda kudos a Basil Brown, cuja reputação necessita de ser colocada onde merece. Daqui, o nosso reconhecimento vai em forma de McChicken.

Título: The Dig
Realizador: Simon Stone
Ano: 2021

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