| CRÍTICAS | Força Delta

Recebo vários emails, quase diariamente, a jogarem-me isto à cara; outras vezes, sou abordado na rua e confrontam-me com o mesmo: as pessoas interrogam-se como é que eu tenho coragem de ter um blogue de cinema e de falar tão pouco do Chuck *deus* Norris. Eu defendo-me e tento enganar-me a mim mesmo, dizendo que já escrevi sobre o McQuade, O Lobo Solitário e A Fúria Do Dragão, mas sei perfeitamente que isso não é suficiente. Este tasco cinematográfico precisa de mais Chuck Norris! Precisa de toda a sua filmografia!

Força Delta é um títulos maiores da carreira de Norris, feito no auge da sua carreira. A seguir ao díptico Desaparecido Em Combate e a Invasão EUA, Chuck Norris tocava no céu, com o auge da xungaria. Força Delta é um apanhado do melhor que se fez nos anos 80, action-flicks-pipoca exacerbados e ingenuamente kitsch, feitos com uma honestidade tão grande que somos incapazes de colocar em causa porque é que todos os carros explodem quando atingidos por tiros ou como é que as munições das armas nunca se esgotam.

Baseado (muito) livremente num caso verídico de piratas do ar, Força Delta é sobre uns terroristas palestinianos (Robert Forster faz de chefe do gangue) que desviam um avião que, para sua infelicidade, vai cheio de americanos. Big mistake! O Tio Sam vai lançar-lhes no encalço o super-exército especializado da Força Delta, liderado pelo coronel Nick Alexander (último filme de Lee *vénia* Marvin) e pelo major Scott McCoy (Chuck Norris, que começa o filme de bigode e termina de barba). Até ao fim, muito pouco vai fazer sentido: os terroristas aterram o avião em todos os aeroportos por onde passam para recolher amigos e deixar outros, numa espécie de eurotrip, até estacionarem no Líbano, onde a Força Delta vai fazer desembarcar uma frota de buggies(!) e motas de cross(!!) para meia hora final de tiroteio e explosões non-sense, numa Beirute inexplicavelmente sem pessoas na rua.

Força Delta é um folhetim de propaganda tão declarado que até assusta como é que é feito por um israelita (Menahem Golan é o mesmo tipo que fez o clássico Ninja, O Imbatível). No entanto, é o retrato fiél da América dos anos 80, em que proliferavam os action-heroes de direita, dando a vida pela bandeira americana em guerras espalhadas pelo Mundo, e da administração Reagan, o tal presidente que adorava o Rambo. Além disso, aproveita para ser anti-palestina (um dos terroristas diz às tantas que querem lutar contra os sionistas, os americanos, os cristãos e os anti-socialistas… ou seja, praticamente toda a gente); para ser pró-israel, em que todas as vítimas judaicas têm aquela expressão de “outra vez a sermos perseguidos?”, com uma alemã colocada pertinentemente dentro do avião para haver o síndrome do Holocausto a bordo; e, para lembrar que a Guerra Fria já acabou (Stallone derrotou-a um ano antes, em Rocky 4), há um russo emigrado nos Estados Unidos, que agradece aos céus a bondade dos americanos.

Depois de tanta ideologia da loja dos trezentos, Força Delta é apenas mais uma patetada desmiolada, com aquele espírito xunga que só os anos 80 tiveram. Chuck Norris anda em Beirute numa mota com mísseis(!), que se recarregam sozinhos(!!), a explodir com tudo o que é muçulmano; os americanos disparam sem apontar e matam toda a gente à primeira, sem se darem sequer ao trabalho de se desviarem dos tiros dos maus e, mesmo assim, só morre um dos bons; e tudo é cozinhado ao som de uma theme-song heróica e memorável, com reminiscências dos genéricos de MacGyver ou Soldados Da Fortuna.

Força Delta é tão mau, tão mau, que se torna bom e volta a ser mau. E, como em qualquer filme que tenha o Chuck Norris, apesar de ser um Cheeseburger, se o compararmos com outro filme que seja também um Cheeseburger, mesmo assim irá saber melhor. 

Título: The Delta Force
Realizador: Menahem Golan
Ano: 1986

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