| CRÍTICAS | Dune – Duna

Pé ante pé, Denis Villeneuve foi-se estabelecendo como um dos mais influentes realizadores da actualidade, conseguindo um daqueles raros casos de (quase) unanimidade entre crítica e público. Por isso, era o único com crédito suficiente para fazer uma sequela do Blade Runner – Perigo Iminente sem que a maioria o tentassem linchar e, melhor ainda, que mesmo depois disso ainda conseguisse fazer a tão aguardada nova adaptação de Dune, o clássico da literatura de ficção-científica de Frank Hebert.

Vários anos depois da mal-aclamada adaptação de David Lynch e da versão de Alejandro Jodorowsky que, apesar de não existir fisicamente, existe através de décadas de filmes de ficção-científica, a tecnologia e o cinema evoluíram finalmente até aquele ponto em que é possível trazer o livro de Hebert para o grande ecrã com a dignidade que merece. Afinal de contas, estamos a falar de um dos mais importantes livros de ficção-científica da história da literatura de ficção-científica, que é ao mesmo tempo uma alegoria geopolítica do Médio Oriente e pró-ecologista, que continua actual e que antecipa a Greta Thunberg em 60(!) anos.

Estamos então num futuro e numa galáxia longínqua, onde uma especiaria faz o(s) mundo(s) girar. Literalmente! É que além dos benefícios para a saúde, a especiaria é também vital para as viagens interplanetárias. É, portanto, a mais importante especiaria do mundo a seguir às Spice Girls. E, tal como o petróleo (aquela outra especiaria que faz o nosso mundo girar), é extraída num planeta deserto, onde vagueiam umas minhocas gigantes tipo o Palpitações em esteróides e que acaba de ser oferecido pelo Imperador como feudo à Casa Atreides – Arrakis.

Dune – Duna começa com a partida da família Atreides (o patriarca Oscar Isaac, a mãe (e espécie de feiticeira) Rebecca *suspiro* Ferguson e o filho Timothée Chalamet) para Arrakis. E o que começa por parecer um filme de viagens no espaço, naves e outros futurismos, aos poucos e poucos começa a revelar-se verdadeiramente como um thriller politico, um Lawrence da Arábia no espaço. E, em simultâneo, Timothée Chalamet começa a aperceber-se como o destino tem um papel especial reservado para si na sequela (sim, porque Dune – Duna é o primeiro de dois episódios), assumindo uma aura messiânica de the choosen one.

Podemos então dizer que Dune – Duna é apenas o filme introdutório ao universo de Frank Hebert, que mesmo tendo duas horas e meia se torna difícil de acompanhar para quem não estiver minimamente por dentro deste universo. É que, para além de todos os povos envolvidos nesta intriga interplanetária (os Fremen, nativos de Arrakis, e os Harkonnen, os bárbaros que controlavam o planeta antes de ser oferecido aos Atreides), existe toda uma série de termos e conceitos numa língua nova e esquisita. Por isso, o filme exige um período de habituação, que pode demorar mais consoante a disponibilidade do espectador para estas temáticas futuristas e alternativas.

Ciente da importância desta empreitada, Denis Villeneuve filma todo o filme com grande cerimónia e protocolo, como se cada cena fosse a mais importante de todas. Ou, pelo menos, até à próxima cena. Claro que, com duas horas e meia de filme, isso começa a tornar-se cansativo, o de estar sempre cá em cima, no vermelho. Isso e a banda-sonora de Hans Zimmer, sempre a estilhaçar o buffer com os seus graves, que chega a tornar-se mais omnipresente do que as próprias imagens. Falta a Dune – Duna aquela parte mais lúdica, que punha a soap na opera de Guerra das Estrelas.

Não quer dizer que esta adaptação de Denis Villeneuve seja falhada, para isso falaríamos do Duna, de David Lynch. Dune – Duna é uma excelente imersão num universo tão completo quanto uma Terra Média, por exemplo, que dá novas cores, cheiros e latitudes a um thriller politico de criaturas asquerosas (sim, estou a pensar no obeso Barão Harkonnen, de Stellan Skarsgård), soldados altamente treinados (Jason Mamoa), rebeldes do deserto (onde se destaca Javier Bardem), bruxas misteriosas (Charlotte Rampling) e minhocas gigantes. Dune – Duna é um óptimo McBacon e não há como não gostar de Denis Villeneuve. Deixem esse ódio para o Cristopher Nolan, ok?

Título: Dune: Part One
Realizador: Denis Villeneuve
Ano: 2021

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