| CRÍTICAS | Hypnotic

Já é um cliché dizer que as nossas vidas nunca mais foram as mesmas desde a recente pandemia – o tal novo normal, que agora também serve para tudo -, mas a verdade é que o novo coronavírus operou uma espécie de revolução silenciosa na forma como vivemos, como trabalhamos, como comunicamos e até como consumimos. Basta ver como o cinema mudou também. Agora, independentemente do tema ou do género filme, todos eles parecem ser uma metáfora ou uma reflexão sobre a pandemia ou o confinamento.

Hypnotic é um desses filmes, que aborda simultaneamente a saúde mental e a depressão do isolamento a partir dos códigos de género do thriller psicológico. Kate Siegel, que tem estado a construir uma carreira de especialista em filmes de terror de série b da Netflix, é então uma mulher a lidar mal com o trauma dum aborto recente e, como consequência, de uma separação ainda fresca. Uma amiga recomenda-lhe então ver um terapeuta que a tem ajudado (Jason O’Mara), que é também uma espécie de guru da auto-ajuda, outro dos flagelos da actualidade, ainda pior do que qualquer coronavírus, e especialista em hipnose.

A hipnose está para o cinema, assim como a acupunctura está para a medicina. Ou seja, serve para tudo e é normalmente usada como uma ferramenta mágica e milagrosa, que permite aceder a recantos inacessíveis da mente humana ou obrigar determinada pessoa a agir contra a sua vontade. Tudo isto está em Hypnotic, não falta nenhum dos clichés. Mesmo assim, o que enerva mais é a falta de ética e de profissionalismo de Jason O’Hara, um terapeuta que vai a festas dos seus pacientes ou beber copos com eles. E ninguém acha estranho.

Pior que ele só o detective Dulé Hill. Kate Siegel e a amiga vão um à esquadra pedir mais informações sobre o tal terapeuta e ele, ainda mal elas abriram a boca, e já está a contar-lhes tudo e mais alguma coisa sobre a vida do homem e criticando o sistema judicial por não o deixarem dar-lhe um par de estalos na boca. Em apenas uma cena, Dulé Hill torna-se também bff de Kate Siegel.

Há então um triângulo montado entre a paciente, o terapeuta e o detective, que vai desenhar-se a partir do momento em que situações estranhas começam a acontecer na vida de Kate Siegel. Essas coisas estranhas incluem tentativas de homicídio do ex-namorado, por exemplo, seguidas de longos períodos de blackout, sem se lembrar de nada. Claro que a única solução só podem ser as sessões de hipnotismo a que se submeteu com aquele terapeuta sedutor, com quem tem uma certa química sexual. O twist que vem tentar explicar tudo isto é quase uma afronta à inteligência das pessoas, Kate Siegel nunca se decide se quer ser uma scream queen ou uma mulher de força emancipada e Hypnotic assume-se como o enésimo filme genérico de terror da Netflix, que tem já um catálogo quase sem fim de títulos destes. São quase todos maus, mas nem todos roçam a Hamburga de Choco como Hypnotic.

Título: Hypnotic
Realizador: Matt Angel & Suzanne Coote
Ano: 2021

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