A premissa de A Descoberta é uma daquelas que vale por si só um filme. Num futuro hipotético não muito longínquo um cientista (Robert Redford) consegue provar que existe vida depois da morte. O resultado dessa descoberta, que passa a ser mencionada com letra maiúscula – a Descoberta -, leva a que o pessoal comece a suicidar-se aos mil. Agora, a Humanidade atravessa uma crise existencial colectiva, existem campanhas permanentes no espaço público a apelar à vida e há até contadores electrónicos com o número de suicídios desde a Descoberta para sensibilizar a malta.
O cenário está montado e as peças são dispostas no tabuleiro num curto prólogo, em que Robert Redford é entrevistado em directo para a televisão pela jornalista Mary Steenburgen, antes do operador de câmara colocar uma bala na cabeça e o cientista condenar-se a auto-reclusão voluntária. Encostamo-nos no sofá, certificamo-nos que a chávena de café está cheia e preparamo-nos para A Descoberta. Infelizmente, o realizador Charlie McDowell conseguiu optar pelo caminho mais desinteressante de todos.
Se está à espera de um thriller sci-fi distópico de qualquer género então pode tirar o cavalinho da chuva. Charlie McDowell mantém-se estritamente fiel aquele mandamento da ficção cientifica em que diz que esta deve ser usada como um espelho do presente para reflectir sobre o futuro para se atirar a um filme cheio de palavreado, com muitos diálogos e quase zero acção, assente sobretudo nos actores. O objectivo? Reflectir pura e unicamente sobre a condição humana, a existência e a vida após a morte (mesmo que aqui vida não signifique necessariamente aquilo que temos no mundo terreno, podendo ser puramente algum tipo de existência).
Jason Segel é o protagonista de A Descoberta, ele que interpreta o filho de Robert Redford e que censura largamente a forma como o pai anunciou a sua descoberta anos atrás. Além disso, traz no armário um esqueleto que é o suicídio da mãe, ainda antes da Descoberta, o que faz com que a sua abordagem à vida seja feita com outras lentes. Há então trauma familiar a complicar ainda mais as coisas. Segel viaja para uma ilha inóspita, onde o pai se fixou em novas descobertas científicas, que faz lembrar o Linha Mortal, e criou uma espécie de culto à sua volta com ex-suicidas, onde vai conhecer Rooney Mara, com quem desenvolve o casal com menos química de sempre da história do cinema. Toda a gente sabe porquê, não é? Jason Segel tem a relação perfeita com Alyson Hannigan e, por mais bom actor que fosse, todas as outras iriam (vão?) soar sempre a falso.
A partir daqui o filme desenvolve-se numa toada quase sonâmbula, assente nos diálogos e em divagações metafísica, o que até nem surpreende, tendo em conta que Charlie McDowell é o realizador de coisas como Legion ou Dispatches from Elsewhere, duas séries algo… alternativas. O que ninguém esperaria é que, ao entrar no último terço do filme, McDowell decidisse alterar a sua aposta e colocar todas as fichas no thriller psicológico. Afinal, há um twist no final para ajudar a dar resposta a uma pergunta que ninguém tinha colocado até então. O filme muda de direcção e entra numa outra que é ainda mais desinteressante. Também não tínhamos pedido por ela. A única coisa que queríamos era uma distopia com suicídios aos mil e a Humanidade a colapsar por causa disso. Fica a ideia e o Cheeseburger para a posterioridade.
Título: The Discovery
Realizador: Charlie McDowell
Ano: 2017