| CRÍTICAS | Degree of Murder

Numa situação normal, Degree of Murder seria apenas uma nota de rodapé na história local do cinema germânico. Mas existem demasiadas particularidades para passar despercebido. Começando logo por ser o filme de estreia de Anita Pallenberg, a modelo-actriz italo-germânica, que foi a musa dos Rolling Stones durante o seu período áureo (namorada de Brian Jones, mulher de Keith Richards, amante de Mick Jagger). Depois, porque Degree of Murder teve mesmo banda-sonora de Brian Jones, se bem que consta que a sua saúde mental já estava nas últimas (e havia também o álcool e as drogas à mistura) e, por isso, o que se houve é só um apanhado de temas genéricos upbeat, alguns violinos e um jazz sem cor nenhuma – como se alguém tivesse escolhido duas playlists ao calhas do Spotify e premido o shuffle. E, finalmente, porque Degree of Murder foi apenas o segundo filme de Volker Schlöndorff, um dos grandes nomes do cinema alemão, aquele que viria a ganhar o Oscar com O Tambor e que fez inclusive a primeira adaptação do Handmaid’s Tale, da qual parece que ninguém se lembra e que merece ser recuperada.

No entanto, em Degree of Murder, Schlöndorff é apenas um jovem realizador fascinado com a nouvelle vague, a procurar fazer um filme à maneira de. Degree of Murder é um filme de baixo orçamento, filmado em cenários reais, sobre jovens a fazer coisas de jovens, mas sem faltar o apelo do cinema popular, ou seja, uma morte e, claro, algum sexo. No entanto, tudo até é espoletado pela recusa de Anita Pallenberg em ceder uma única noite na cama com o ex-namorado, que regressa a casa para apanhar os seus pertences. Na luta do momento, um tiro acaba disparado e jovem tomba morto. Pallenberg sai no dia seguinte e conhece Gunther (Hans Peter Hallwachs) e Fritz (Manfred Fischbeck), a quem paga para se verem livres do cadáver.

Tal como em qualquer filme francês que se preze, também aqui se forma um triângulo amoroso, que não tem que ter necessariamente intimidade. Os três embarcam numa demanda tão hedonista, quanto amadora, que envolve muitas paragens para cafe, algum álcool, muita conversa e viagens de carro. O melhor momento é quando se demoram pelo campo, na casa da avó de um deles, e se cria uma espécie de dicotomia entre a cidade e o campo, esse binómio que sempre criou faísca desde os primórdios do cinema (alguém mencionou Aurora?).

No final, Degree of Murder acaba por ter o mesmo pouco jeito que os três tiveram para se livrarem do cadáver e o seu amoralismo acaba por se confundir com irrelevância. O filme termina com um plano que é togue in cheek, mas a comédia está ausente do resto do filme, que se limita a explorar as impressões quotidianas e banais do sujeito, num retrato mais psicológico, mas sem ser profundo. O que significa que é mais ilustrativo do que realmente explicativo. Um filme que é um gesto criativo livre, mas sem grande convicção, cujo Cheeseburger é praticamente todo ele explicado pelas tais trivialidades que referi no primeiro parágrafo.

Título: Mord Und Totschlag
Realizador: Volker Schlöndorff
Ano: 1967

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *