| CRÍTICAS | Encanto

Depois da cultura mexicana, em Coco, a Disney volta a atirar-se a uma cultura latina em Encanto, aumentando a representatividade das suas animações e, claro, procurando capitalizar essa sua opção e arranjando mais um pretexto fácil para chamar Lin-Manuel Miranda, o actual Midas do musical, que assim termina o ano com três filmes em cartaz – Tick, Tick… BOOM, Vivo e, claro, este Encanto. No entanto, esta nem sequer é a primeira vez que a Disney vai para a América do Sul. Lembram-se de Pacha e o Imperador? Não era bem na Colômbia, mas era lá ao lado.

Encanto é a história da família Madrigal, que vivem numa casa mágica, cortesia de uma vela mágica que nunca se apaga. Além disso, cada membro da família, ao atingir a maioridade, recebe um dom mágico, que coloca ao serviço da comunidade. Há assim uma irmã com a habilidade de curar qualquer maleita através da comida, outra capaz de mudar o tempo, uma com força sobre-humana e outra tão perfeita que tudo o que faz é criar flores e mais flores. Toda a família foi assim prendada com um poder sobrenatural. Toda? Toda não. A jovem Maribel (voz de Stephanie Beatriz, mais uma heroína Disney sem um interesse romântico e a primeira com óculos(!)) é a única na família que não parece ter nenhum dom especial.

Claro que, perante o sinal de perigo de que o encanto que mantém a casa da família mágica e viva pode estar ameaçado, é Maribel que descobre ter o destino da família nas mãos. O que significa que não há propriamente um vilão em Encanto. Maribel e os Madrigal apenas têm que lidar contra o destino, resolvendo os seus problemas entre si. E o que vamos todos descobrir ao mesmo tempo é o que já sabíamos com todos os filmes de super-heróis que vemos regularmente. É que com grandes poderes vêm grandes responsabilidades. E isso pode ser muito peso para uma pessoa arcar sozinha. Felizmente que, com o apoio da família, isso torna-se bem mais fácil.

Encanto é assim um filme feito de metáforas, que são quase todas demasiado evidentes. Mas do que é que estávamos à espera de um filme sobre uma família que vive numa casa mágica? Claro que isso faz mais sentido quando estamos a falar da Colômbia, a nação de Borges, de García Márquez e de uma longa tradição de realismo mágico, mas a premissa do filme parece sempre demasiado óbvia – ou demasiado juvenil – até mesmo para um filme da Disney.

Claro que, depois, há os números musicais e é isso que faz a diferença de Encanto. No entanto, seja por cansaço seja por clara falta de inspiração, não há propriamente nenhum número memorável de Lin-Manuel Miranda. Aliás, até há um (Surface Pressure) que parece reciclado de Tick, Tick… BOOM. E o inicial The Family Madrigal poderia muito bem fazer parte de Ao Ritmo de Washington Heights, a obra-prima de Miranda. Mas ei, eu também não previa nada de bom às cantigas de Frozen – O Reino do Gelo e olhem o que aconteceu.

Encanto é assim uma fábula diferente da Disney, com uma animação imaculada e a habitual mensagem sobre a importância e a força do núcleo familiar, mas que vem adicionar pouca coisa ao espólio mitológico da empresa. O Double Cheeseburger não lhe fica mal nem sequer envergonha os seus pergaminhos, mas Encanto não é um filme que fará grande diferença quando olharmos para ele lá do futuro. Mas é um bonito filme de Natal, altura para celebrarmos a família e os nossos.

Título: Encanto
Realizador: Jared Bush & Byron Howard & Charise Castro Smith
Ano: 2021

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