| CRÍTICAS | O Último Duelo

Ridley Scott, esse logro de realizador, pode ter feito vários filmes de época, mas havemos sempre de nos lembrar de Gladiador primeiro. Aliás, quando O Último Duelo abre e vemos Adam Driver e Matt Damon preparando-se para um duelo de justa, não conseguimos deixar de fazer um paralelismo com os duelos nas arenas romanas onde Russell Crowe se destacaria como o melhor. No entanto, O Último Duelo há de se vir a revelar bem diferente.

O Último Duelo é então um filme de vingança, baseado num caso real na França medieval, que resultaria no tal duelo entre Driver e Damon que abre logo o filme. Aliás, esse foi mesmo o penúltimo duelo até à morte entre duas pessoas para disputar uma questão legal que aconteceu na França. Contudo, para perceber como os dois antigos amigos chegaram até a esse momento é preciso recuar no tempo, até porque há uma terceira parte envolvida: Jodie Comer, a esposa de Matt Damon.

Ridley Scott decide então não jogar pelas regras convencionais da estrutura narrativa e decide contar a mesma história pelo olhar de cada um desses protagonistas. O Último Duelo está então dividido em três capítulos, sendo cada um deles intitulado a verdade segundo x, começando por Damon, passando por Driver e terminando em Comer. Seria então de esperar que cada uma das versões fosse diferente da anterior e ajudasse a perceber vieses de interpretação, pelo que nos é dado a entender pelos títulos dos capítulos. Mas, surpresa!, não é isso que acontece. Todas as versões se confirmam umas às outras, permitindo apenas revelar certos pormenores que, na perspectiva de alguns dos intervenientes, se mantinham desconhecidos.

Então porque é que O Último Duelo vem assim estruturado? Difícil de responder. Matt Damon (com um penteado que parece o John Travolta naquele filme realizado pelo Fred Durst) é então um cavaleiro que segue estritamente os princípios da integridade e da justiça, o que, juntamente com um misto de má sorte e mau timming para questionar os seus superiores herárquicos, acaba por não ter a carreira que planeava; Adam Driver é um antigo amigo e companheiro de armas, que acaba por se tornar no escudeiro de um boémio Ben Affleck (com um terrível penteado descolorado, que parece o Vanilla Ice da actualidade) e tirar vantagem de Damon, além de violar a sua esposa; e Jodie Comer é a mulher submissa de Affleck que, quando é violada, decide não ficar calada e avançar para uma acusação em tribunais.

É no terceiro capítulo, que segue o ponto de vista de Comer, que O Último Duelo se torna então o filme de mensagem feminista que parece que era a intenção de Ridley Scott desde o primeiro momento. Apesar dos preconceitos sociais da época, incluindo os do seu marido e da própria família, Comer não se calou e foi até ao fim, mantendo a sua acusação de violação. Mesmo que isso resultasse na morte dela ou do esposo. É que, sem haver forma de provar a violação em tribunal, a forma encontrada pelo rei foi simples: Damon e Driver deviam degladiar-se até à morte e deixar a contenda nas mãos de Deus. Se o primeiro ganhasse, então Deus mostraria que ela teria razão; se vencesse o segundo, ela seria apedrejada até à morte por falsas declarações em tribunal. Nada mais justo, portanto *bonequinho a fazer facepalm*

Nesta altura do campeonato, depois de Gladiador, Robin Hood ou Reino dos Céus, Ridley Scott já faz estes filmes de época com uma perna às costas. E sempre mais preocupado com o espectáculo do que com o protocolo. No entanto, se em filmes como Gladiador os anacronismos sempre eram usados em favor da liberdade narrativa, aqui surgem quase sempre de forma gratuita. Quando os diálogos soam como se estivessem a ser ditos em pleno século XXI isso só pode soar a… má escrita. Há algumas coisas interessantes em O Último Duelo, mas são muito mais as más (como a interminável cena do duelo final, que parece tirada de um qualquer filme de super-heróis da Marvel). Por isso, em vez de criticar as novas gerações por só quererem saber dos telemóveis como justificação para que este tenha sido o grande flor de 2021, Ridley Scott devia tentar perceber antes porque é que só levou para casa com isto um mísero Cheeeburger.

Título: The Last Duel
Realizador: Ridley Scott
Ano: 2021

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