| CRÍTICAS | Eternals – Eternos

Eternals – Eternos ilustra bem esta nova fase em que entra o universo cinematográfico da Marvel: mais representativo e com realizadores que não vêem propriamente da linha de montagem de Hollywood. Havia grande expectativa para ver o que Chloé Zhao, aquela que se destacou nos Oscares do ano passado por se ter tornado apenas na segunda mulher (e a primeira asiática) a arrecadar a estatueta de melhor realização, iria fazer neste filme. E, se podemos começar pelo fim, das duas uma: ou é impossível ter qualquer marca autoral num filme da Marvel, porque o sue rolo compressor normaliza tudo e todos; ou então Zhao é mais fogo de vista do que outra coisa. Pessoalmente, parece que há grandes possibilidades de ser um pouco de ambos. É que Nomadland – Sobreviver na América é giro, mas nada de outro mundo…

Eternals – Eternos abre com os Pink Floyd e, por segundos, parece que poderá estar aqui uma abordagem nova aos filmes de Marvel. Mas afinal de contas, os Pink Floyd são apenas música para quem quer parecer inteligente. E isso cola que nem ginjas a Eternals – Eternos. Há vários momentos de longas paisagens, que convidam à reflexão, quase sempre durante a hora mágica, mas depois lá vem o rolo compressor da Marvel e tudo se torna mais do mesmo. Eternals – Eternos parece sempre mais contemplativo e espiritual do que é, mas ei, não é assim todo o espiritualismo de supermercado?

Além disso, também jogando em defesa de Chloé Zhao, os Eternos também não são propriamente uns heróis muito entusiasmastes. Eternals – Eternos é mais um filme de ensemble, mais perto de Guardiões da Galáxia do que dos Vingadores, porque aqui também são todos desconhecidos. São uma espécie de divindades, que estão entre os Homens desde sempre, sem interferir nunca nos destinos do Homem, e que são de todas as cores e ascendências, o que faz com que pareçam a Angelina Jolie e os seus filhos adoptivos. Angelina é Thena, a deusa da guerra, e há também o equivalente a Mercúrio, que corre que se farta, Ícaro (Richard Madsen), que parece o Super-Homem, e mais divindades e personagens e mitológicas de todas as civilizações. No total são dez e, no final, há algumas que nem sabemos bem o que fazem – qual é mesmo o poder de Salma Hayek?

Entretanto há uma ameaça cósmica que coloca em perigo a Humanidade e os Eternos vão-se unir para derrota-la, numa espécie de périplo pelo mundo, que os levam por várias paisagens de cortar a respiração (e sempre na hora mágica, já tinha dito?). Eternals – Eternos é como um James Bond mais super-heróico. Entretanto, Chloé Zhao procura meditar (esta é a palavra correcta) sobre o significado da família, da amizade e do humanismo, e até há os primeiros heróis da Marvel que têm sexo(!), procurando dar-lhes mais espessura do que o normal.

O problema é que, tal como o primeiro Thor, este é também um filme sobre pseudo-deuses com poderes cósmicos, vestidos com roupas ridículas, a deitarem raios pelos olhos e outras coisas do género, que se leva demasiado a sério. Torna-se, por isso, um pastelão sisudo, longe do carácter lúdico dos melhores filmes da Marvel. Ok, não é tão mau como o Thor, mas não deixa de ter alguns momentos algo confrangedores. Se eu agora fosse um millenial tinha aqui a oportunidade perfeita de usar a palavra cringe.

Com mais de duas horas, que não justifica nem um bocadinho, Eternals – Eternos introduz no universo cinematográfico da Marvel aqueles que se arriscam a ser os seus personagens mais aborrecidos. No final, na cena pós-créditos, atira-nos com Eros (um casting de génio, com Harry Styles) e Pip (Patton Oswalt), que podem vir a trazer alguma dinâmica à sequela. Mas para já, Eternals – Eternos é um semi-bocejo, com muita parra e pouca uva. Ou, por outras palavras, com mais queijo do que carne (leia-se Cheeseburger).

Título: Eternals
Realizador: Chloé Zhao
Ano: 2021

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *