| CRÍTICAS | Sinister – A Entidade

Uma vez, em 2020, a revista Forbes fez um estudo em que monitorou o ritmo cardíaco do público enquanto viam 35 filmes de terror. Não sei quais foram os outros títulos, mas aquele que mais comoção causou foi Sinister – A Entidade, tendo sido assim eleito o campeão deste estudo, com o epíteto de filme mais assustador de todos. Vale o que vale, mas pelo menos a publicidade já ninguém lha tira. Eu, pelo menos, foi assim que cheguei a ele.

De facto, Sinister – A Entidade serve-se de vários snuff films, que o próprio realizador Scott Derrickson realizou em 8 milímetros, que são sempre perturbadores e sinistros. Há qualquer coisa naquela imagem granulada e silenciosa que nos desperta qualquer coisa cá no fundo, especialmente quando estamos a ver crianças a serem enforcadas, famílias queimadas vivas, miúdos cortados com um corta-relvas ou, simplesmente, alguém a degolar pessoas calmamente. Obviamente que Sinister – A Entidade não resiste à tentação de sonorizar estes momentos com banda-sonora sinistra, mas é verdade que é difícil mostrar um filme em 8 milímetros sem som durante um longo período de tempo.

Ethan Hawke é então um escritor de livros policiais sobre assassinatos reais, que se muda mais a família para a casa onde foi enforcada a família do crime sobre o qual ele está a escrever. Não há maior cliché no cinema de terror, o das família que se muda alegremente para uma casa onde decorreu uma tragédia, por isso Scott Derrickson assume-o e abraça-o deliberadamente. Ethan Hawke decidiu mudar-se para o local daquele crime sobre o qual está a escrever! Nada conta, se Sinister – A Entidade não desenrolasse mais um catálogo de lugares-comuns até ao final: os ruídos no sótão, o protagonista que começa a beber descontroladamente e já não sabemos o que é real e o que é invenção da sua mente, as crianças que vêem sempre mais coisas que os adultos ou a esposa que começa a ficar pelos cabelos com aquilo tudo.

É que, além de ter descoberto no sótão uns filmes em super 8 com os tais crimes, que parecem sugerir o trabalho de um serial killer – e que começa a estudar obsessivamente durante as noites -, o paranormal começa a bater à porta. No entanto, entre muita sugestão – e um filho sonâmbulo, que aparece a gritar dentro das caixas das mudanças(!) -, Ethan Hawke nunca acha estranho que apareça no seu computador um vídeo dele a cair no sótão, onde se vêem inclusive várias mãos(!!). Pior que isso, só o facto de nunca ninguém acordar à noite, quando Hawke anda pelo sótão a perseguir marteladas, a derrubar a mobília e a fazer trinta por uma linha.

No entanto, não é aí que Sinister – A Entidade peca. É que, além do apelo dos vídeos snuff, Sinister – A Entidade até consegue ser um eficaz filme de fantasmas, apesar de repisar vários clichés, especialmente no tratamento que Scott Derrickson faz do jogo de luzes, entre sombras e claridade. O pior é que depois começa a mergulhar no paranormal, surgem entidades mitológicos malvadas e tudo tem que se encaixar num final absolutamente ridículo, que não lembra ao menino Jesus. A Forbes pode ter concluído que era o filme mais assustador de sempre, mas aqui neste imodesto tasco cinéfilo decidimos que não merece mais do que o Cheeseburger. E já estou a contar com as batatas fritas a mais por simpatizar com o Ethan Hawke.

Título: Sinister
Realizador: Scott Derrickson
Ano: 2012

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *