| CRÍTICAS | Texas Chainsaw Massacre

O cinema de terror funciona de forma oposta ao pornográfico. Enquanto que neste último quantas mais sequelas o filme tem mais nós o queremos ver, no primeiro o que interessam são os primeiros. Enquanto que Chupa-me os Pistons 12 tem tudo para ser uma obra-prima, já ninguém quis saber de Pesadelo em Elm Street 9. E depois há Massacre no Texas, um dos fundadores do slasher teen movie, que tem tantos tomos que não só já não queremos saber, como já estamos completamente perdidos.

E agora mete-se a Netflix ao barulho, com Texas Chainsaw Massacre, a enésima sequela (mas desta vez o chainsaw do título está pegado), um filme que, sem renegar por completo os outros filmes pelo meio, acaba por responder directamente ao original Massacre no Texas. Foi o sucesso do Halloween de 2018 que os convenceu, provavelmente. E tal como esse, que recuperava a heroína original, Jamie Lee Curtis, para lutar novamente com o serial killer original, também este novo Texas Chainsaw Massacre faz o mesmo. Marilyn Burns, a actriz que fazia de Sally, a jovem que sobreviva na aventura inicial, já faleceu, por isso veio Olwen Fouéré substitui-la em modo badass, seguindo as pegadas de uma Sigourney Weaver ou Linda Hamilton.

50 anos depois de Massacre no Texas, um grupo de jovens empreendedores (que palavra odiosa…) compra uma aldeola abandonada no meio do Texas, com o intuito de a vender a influencers e refundarem uma espécie de utopia no countryside. Tal como no recente Candyman, mais um clássico do género que recentemente foi recuperado, é a gentrificação o grande inimigo do filme. As irmãs Sarah Yarkin (vestida à Joan Crawford no Johnny Guitar (mas as semelhanças ficam-se por aí)) e Elsie Fisher, mais Jacob Latimore e Nell Hudson levam um autocarro cheio de futuros investidores até ao lugarejo, onde descobrem que ainda há uma última moradora resistente. Alice Krige é a dona de um antigo orfanato, onde ainda vive com o último utente (que de jovem já não tem nada), e que garante que a casa continua a ser dela.

A emoção dos acontecimentos fazem com que o seu coração dê de si. A velhota bate as botas e o miúdo-que-já-não-é-miúdo-nenhum-mas-antes-um-homenzarrão faz uma jura silenciosa de vingança. Corta-lhe a cara, usa-a como máscara e vai buscar a serra eléctrica, ressuscitando Leatherface em todo o seu esplendor. E ainda fala uma hora para o final do filme, o que significa que, daqui para a frente, vai ser uma matança do porco que envolve muito gore gratuito. E uma cena em que Leatherface irrompe de serra eléctrica dentro de um autocarro cheio de gente bêbada, que quase parece uma variação da cena do cortador de relva de Morte Cerebral.

Rapidamente o realizador David Blue Garcia atira o argumento ás urtigas e diverte-se a coregorafar as suas cenas de violência, tão estilizadas que se tornam quase caricaturais. As personagens nunca passam da bidimensionalidade, apesar de ficar a ideia de que havia outros planos para que a personagem de Elsie Fisher, uma sobrevivente de um tiroteio escolar (ou pelo menos assim parece). O que importa a Texas Chainsaw Massacre é ir aumentando o bodycount, sempre de forma cada vez mais original, cruel e sangrenta. E, no final, termina tudo com uma cena slapstick, que fez Eli Roth aplaudir certamente de pé, já que essa é a sua imagem de marca. Não, Texas Chainsaw Massacre não é a pior sequela de Massacre no Texas. Mas com o Double Cheeseburger está também longe de ser a melhor.

Título: Texas Chainsaw Massacre
Realizador: David Blue Garcia
Ano: 2022

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