| CRÍTICAS | Turning Red – Estranhamente Vermelho

Depois da Disney ter procurado aumentar a representatividade nas suas histórias com Encanto, sobre uma família sul-americana, a Pixar seguiu-lhe os passos ao se debruçar sobre uma família sino-canadiana. E é precisamente essa origem que vai determinar de forma decisiva toda a história de Turning Red – Estranhamente Vermelho. É que Mei Lee, a jovem protagonista, vive dividida entre agradar a mãe e a família em casa, de acordo com a tradição oriental que as suas raízes exigem, e em se expressar enquanto ela mesma na escola e na sua vida social. E, ao entrar na puberdade, com todas as hormonas aos saltos, essas coisas expressam-se com ainda mais intensidade, onde tudo é ou demasiado dramático ou demasiado entusiasmante, não há cá meios termos.

Turning Red – Estranhamente Vermelho é assim uma história de crescimento sobre o individualismo e as raízes familiares, um coming of age tão certeiro que faz com que seja fácil, mais uma vez, a maioria de nós nos identificarmos com ela. Aliás, é precisamente esse, desde o primeiro filme, o segredo do sucesso da Pixar, agradando de igual maneira a miúdos e graúdos. Os primeiros estão geralmente a passar por aquelas mesmas questões, dúvidas e dilemas e, por isso, identificam-se com a história; os segundos já passaram por aquilo ou estão a vive-lo novamente com os filhos e, por isso, identificam-se com a história. É uma situação em que tidas saem saem a ganhar.

Mei Lee é assim uma adolescente como a maioria das adolescentes na sua escola, cheia de energia e motivada para mudar o mundo, ao mesmo tempo que venera a boys band do momento, começa a ter os primeiros problemas com rapazes e gere uma série de conflitos com o seu grupo de bff. Em casa, Mei Lee reprime alguma dessa energia, esconde a adoração pela boys band e ajuda a mãe a gerir o templo da família, cumprindo todas as expectativas que uma família conservadora chinesa deposita sobre a primogénita. Mas, do choque entre essas duas realidades, surge um plot twist: é que nos momentos em que fica muito emocional, Mei Lee transforma-se… num panda vermelho(!).

Obviamente que este panda funciona como uma metáfora (muito pouco subtil) da puberdade. Aliás, todos temos acompanhado o Big Mouth e os seus monstros das hormonas para o identificar a léguas de distância. No entanto, na história essa transformação é literal e claro que uma miúda transformada em panda vermelho gigante vai causar muitos problemas, tanto em casa como na escola. E com a resolução do problema virá uma lição moral conciliadora para todos.

Como em qualquer filme que aborde minimamente a cultura chinesa, Turning Red – Estranhamente Vermelho utiliza também aquele misticismo exótico e fantástico que é obrigatório na forma como nós, mundo ocidental, olhamos para lá do sol posto, mas cruzando-o com influências directas do anime – os olhos grandes, o j-rock… Como de costume, o resultado é, técnica e visualmente impecável, enquanto que, na parte narrativa e dramática, Turning Red – Estranhamente Vermelho pode não ser do melhor que já vimos na Pixar, mas que não desmerece em nada os seus pergaminhos. E, pelo menos, este McBacon é claramente superior ao anterior Luca.

Título: Turning Red
Realizador: Domee Shi
Ano: 2022

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