| CRÍTICAS | O Projecto Adam

É incrível como Ryan Reynolds estava condenado a uma carreira limitada aos rodapés da história do cinema, entre comédias românticas e séries b de super-heróis, e de repente se tornou num dos actores mais queridos de Hollywood. É certo que já o tínhamos visto acontecer com Matthew McCounaghey, mas mesmo assim continua a ser surpreendente. Tudo graças a um filme, Deadpool, e ao seu humor insolente, provocador e sem receios de ser auto-depreciativo.

No entanto, a verdade é que Ryan Reynolds, ao ver essa pequena possibilidade de sucesso, não quis deixar passar a oportunidade e agarrou-a de unhas e dentes. E, desde aí, que tem vindo a repetir vezes e vezes sem conta a mesma personagem. Em todos os filmes desde Deadpool, Ryan Reynolds faz de Deadpool, que é o mesmo que dizer que Ryan Reynolds faz de Ryan Reynolds. E no novo O Projecto Adam, o novo filme de Shawn Levy, desta vez para a Netflix, a surpresa! Ryan Reynolds faz… de Ryan Reynolds outra vez.

Curiosamente, a carreira de Shawn Levy tem um percurso semelhante ao do actor. Depois de vários anos entalado a fazer comédias românticas e de domingo à tarde, o realizador conseguiu conquistar a bilheteira, com um blockbuster em que misturava humor descontraído com muita acção estilizada e barulhenta. De forma a não deixar passar também a oportunidade, Levy seguiu a lição do protagonista de Free Guy – Herói Improvável, sim, acertaram, o próprio Ryan Reynolds, e decidiu continuar a repetir a fórmula vencedora. Por isso, O Projecto Adam é quase como se fosse uma sequela espiritual de Free Guy – Herói Improvável (e, nem por acaso, Levy já foi anunciado como o realizador de… Deadpool 3).

Ryan Reynolds é então um soldado que viaja atrás no tempo e acaba por fazer dupla com ele próprio, quando era um adolescente que se refugiava no humor para se defender do bullying e da humilhação pública, para salvar o seu próprio futuro. Ou seja, como em qualquer filme de viagens no tempo (e aqui não há qualquer pejo em referenciar directamente Regresso ao Futuro, por exemplo, seguindo outra tradição de Deadpool, o de quebrar a quarta dimensão), há aqui muito paradoxo da predestinação, como seria de esperar, mas nada de muito novo que mereça mais conversa além disso.

Depois aparece um mau (neste caso uma vilã, Catherine Keener), aparece a esposa de Reynolds (Zoe Saldana) e é a mesma fórmula de blockbuster que Shawn Levy experimentou em Free Guy – Herói Improvável e da qual falámos no terceiro parágrafo desta prosa. Levy ainda tenta injectar alguma daquela energia muito própria dos filmes de adolescentes dos anos 80 (olá John Hughes, como estás?), mas também não deixa de soar como uma imitação do original. Ou seja, nada aqui é novo e já o vimos feito antes, inclusive pelos mesmos intervenientes. Entretém? Sim, mas é igualmente esquecível, assim como qualquer Happy Meal. 

Título: The Adam Project
Realizador: Shawn Levy
Ano: 2022

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