Já vimos este formato testado em vários filmes: vários amigos reunem-se à volta da mesa pra um jantar, que deveria ser uma celebração, e acaba por se tornar num pesadelo, mais ou menos literal. Em The Invitation havia um culto, em Perfectos Desconicidos os telefones tornam-se numa porta aberta para a perda de privacidade e em O Homem da Terra um estranho torna-se numa visita inesperada. O que estes filmes têm em comum são duas coisas: apenas um cenário, onde as personagens agem durante uma noite; e a mesa de jantar, como pedra basilar da narrativa clássica.
Coerência é mais um filme que se inscreve nesta tradição: oito amigos juntam-se na casa de dois deles para um jantar, numa noite em que um cometa há de riscar os céus. Coincidência ou não, estranhos acontecimentos começam a acontecer. Como se não bastasse já alguma tensão no ar, devido ao facto de um dos amigos, ex-namorado de Emily Baldoni, ter trazido a nova namorada, que já andou com outro dos presentes, os ecrãs dos telefones começam a rachar sem explicação, a rede desaparece e, de súbito, as luzes vão abaixo.
De repente, a ficção-cientifica começa a instalar-se naquela minúscula sala de jantar, onde a câmara ao ombro muito nervosa e os grandes planos aumentam o desconforto e a tensão. Até demasiado, alguns dirão. É que as câmaras tremem tanto que, às vezes, parece que estamos em alto mar ou a ver o Ondas de Paixão. Ou a ver o Ondas de Paixão em alto mar.
Coerência é, inesperadamente, um filme sobre time loops e universos alternativos, que lembra coisas como Primer, também para referir onde filme low-cost, que prova pela enésima vez que um bom filme não precisa de milhões, mas antes de uma boa história. Coerência poderia muito bem ser um episódio de Twilight Zone, que alguém esticou até ser uma longa metragem. Ou seja, é um excelente episódio de algo, mas um filme assim-assim. Sobrevive ao McChicken, mas muito rés-vés Campo de Ourique.
Título: Coherence
Realizador: James Ward Byrkit
Ano: 2013