| CRÍTICAS | O Homem do Norte

Robert Eggers, um dos novos nomes queridos de Hollywood, continua a recuar no tempo para encontrar novos territórios para o terror. Depois do folk/pagan horror gótico de A Bruxa – A Lenda de New England e da história de marinheiros e sereias de O Farol, Eggers atira-se aos vikings, que nos últimos tempos ultrapassaram de vez o lugar dos piratas em Hollywood como heróis (e anti-heróis) românticos, que encarnam de igual forma uma ideia de bravura e de honra e dignidade. O Homem do Norte é então a sua versão do mito do folclore fundador nórdico que também inspirou Shakespeare em Hamlet (e a Disney em O Rei Leão) – não é por acaso que o protagonista se chama… Amleth, construída com um apurado rigor histórico e irritantes sotaques islandeses.

A trama de Hamlet é conhecida e, por arrasto, a de O Homem do Norte também. O tio (Claes Bang) mara o irmão (Ethan Hawke) que é rei, toma o seu lugar no trono do reino e o filho, Amleth (Alexander Skarsgård), consegue fugir, apenas para regressar anos mais tarde, já homem, para se vingar e reclamar o trono que é seu de direito. É então a vengeance story por excelência, só que desta vez filtrada pelo crivo dos vikings. O que quer dizer que tem muita violência exacerbada, que Robert Eggers não tem problema nenhum em arrastar para os territórios do gore.

Depois de A Bruxa – A Lenda de New England e O Farol, dois filmes independentes que criaram buzz e se tornaram rapidamente filmes de culto, Robert Eggers chegou agora aos grandes estúdios e, por isso, as expectativas eram grandes. E, apesar de terem sido públicas as exigências dos produtores sobre o realizador, a verdade é que O Homem do Norte começa logo por não cumprir essas expectativas. Claro que é sempre uma treta ir para um filme com a fasquia muito elevada, porque o colocamos desde logo a competir por objectivos que não são necessariamente os seus, mas há sempre uma ideia de normalização de O Homem do Norte que não havia nos filmes anteriores.

Existem planos muito bonitos, os enquadramentos formalistas que muitas vezes são confundidos com cinema de autor e muita estetização, que acaba por estilizar demasiado o filme e afasta-lo do realismo mais cru que parecia ser a intenção original de Robert Eggers. Ou seja, O Homem do Norte está sempre mais perto da cartunização de 300, do que de um filme de capa e espada tipo Excalibur. O clímax do filme, por exemplo, com os dois homens a defrontarem-se com um vulcão por trás, é quase um desenho-animado. E, por isso, o melhor filme de vikings continua a ser o Valhalla Rising – O Destino, que apesar de tudo consegue ser mais seco e reflexivo do que este.

Não quer dizer que O Homem do Norte seja um mau filme. Existem vários bons momentos, é sempre giro ver a Bjork a fazer de bruxa e Anya Taylor-Joy é a melhor parte do filme, mas na maior parte do tempo O Homem do Norte é só mais um blockbuster. E mesmo quando Robert Eggers entra na parte espiritual, onde consegue ser mais ele próprio, fica sempre uma sensação de que já vimos aquilo em O Último Capítulo, do Darren Aranofsky. Depois do insipiente O Farol, o Cheeseburger deste O Homem do Norte parece provar que o verdadeiro Eggers não é o de A Bruxa – A Lenda de New England.

Título: The Northman
Realizador: Robert Eggers
Ano: 2022

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