| CRÍTICAS | Morbius

Alguém devia fazer uma intervenção junto do pessoal da Marvel. Senão é como aquele meme diz, daqui a 30 anos, quem quiser entender o novo filme do Capitão América vai ter que ver 300 sequelas anteriores. Além disso, já chegou aquele ponto em que a Marvel está a adaptar os heróis que não interessam a ninguém (o Cavaleiro da Lua, a sério? Já não tinha bastado o Luke Cage e o Punho-de-Ferro?). E mais, não só os heróis, como também os vilões. Morbius, um dos últimos títulos da Marvel, é ambos: um vilão que ninguém conhece.

Morbius é um vampiro que, apesar de não ser um vampiro como os vampiros tradicionais da literatura (é o próprio que o diz durante o filme…), acaba por fazer os mesmos que os vampiros fazem. Além disso, o realizador de Morbius, Daniel Espinosa, farta-se de referenciar directamente Bram Stoker e F. W. Murnau, o que nos deixa confusos. Afinal Morbius é um vampiro ou não? O próprio vilão surgiu na Marvel nos anos 70, quando passou a ser possível incluir nos quadradinhos personagens sobrenaturais.

Mesmo depois do acordo com a Marvel, a Sony continua a sonhar com o seu plano de longa data em fazer um filme do Sexteto Sinistro (atenção à cena pós-créditos, onde Michael Keaton vem tentar dar alguma credibilidade a este franchise de mauzões) e em fazer filmes de vilões. A diferença é que, ao contrário de Venom e Loki, os outros dois maus que tiveram filmes (ou séries) em nome próprio no Universo Cinemático da Marvel, Morbius é uma personagem extremamente desinteressante. Já vos disse que é um vampiro? Uau! Era mesmo o que precisávamos, não só mais um filme de vampiros, mas um vampiro no Universo Cinemático da Marvel.

Jared Leto, que já tinha arruinado uma personagem da DC e agora parece querer fazer o mesmo na Marvel (Chris Evans e Ryan Reynolds tiveram melhor sorte nas suas segundas tentativas), é então um cientista brilhante cujo único objectivo de vida é encontrar uma cura para a doença que ele e o melhor amigo (Matt Smith) têm. Qual é a doença? Ninguém sabe. Basta dizer que é uma doença incapacitante, que os obriga a transfusões de sangue regulares. É esse o nível de detalhe do argumento de Morbius

Quando conhecemos Jared Leto ele está então a recusar um prémio Nobel por considerar que o seu trabalho ainda não está feito – o que não o impediu de viajar até à Suécia para o anunciar ao microfone, perante toda a gente. Querem algo mais petulante? Logo a seguir está a experimentar cruzar ADN com uns morcegos-vampiros que roubou na Costa Rica, numa cena inicial pouco clara. E como todos já vimos A Mosca sabemos o que vai acontecer. Jared Leto vai-se tornar metade-homem metade-morcego, que tem que se alimentar de sangue de x em x horas. Morbius não é um vampiro, é um chupa-cabras. E quando se transforma parece o Lobijovem.

O argumento de Morbius é altamente esquemático, como se tivesse sido escrito nos anos 70, numa altura em que os vampiros eram uma novidade e bastava serem-no para serem cativantes. E, claro, este volta a não ter qualquer aura romântica da vampiragem de Bram Stocker, é antes um tipo com super-poderes inspirado nos heróis sisudos da Marvel. As cenas de pancadaria são desinspiradas, falta um nemésis à altura no filme e é tudo tão chapa 4 que Morbius só não é o pior Happy Meal deste ano da Marvel, porque há aquele da Viúva Negra.

Título: Morbius
Realizador: Daniel Espinosa
Ano: 2022

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