| CRÍTICAS | Bubba Ho-Tep

Bubba – Campónio; Rapaz do campo
Ho-tep – Descendente da 17ª dinastia dos faraós do Egipto

Bubba Ho-tep é o filme de Don Coscarelli, o aficcionado de filmes de zombies e terror xunga (lembra-se da saga Fantasma?), que mistura hillbillies e faraós do Antigo Egipto. Oi? Como assim?
Bubba Ho-tep é então um filme que tem (não necessariamente por esta ordem): Bruce Campbell, o rei do cinema de série B, no papel do rei do rock n’ roll, reformado e doente; Ossie Davis no papel de John Fitzgerald Kennedy, reformado e doente; e uma múmia “saloia”, com botas de cowboy, saída do antigo Egipto com uma arreliadora maldição às costas. É então o mais criativo e original filme fantástico dos últimos tempos? Não, é a mais original e criativa crise de meia-idade da história do cinema.

Original é o adjectivo que mais se adequa a Bubba Ho-tep. Elvis Presley (Bruce Campbell), cansado da vida de fama, troca de lugar com um imitador, Sebastian Haff, passando os últimos dias da sua carreira imitando um imitador de si próprio. Actualmente, vive num lar de idosos, gordo e doente, onde vive também John F. Kennedy (Ossie Davis), ex-presidente dos Estados Unidos, cujo cérebro foi trocado por um saco de areia e a cor da pele tingida de negro pelos serviços secretos norte-americanos, depois do atentado de homicídio manipulado em Dallas. Esse lar acaba de ser assombrado por uma múmia sugadora de almas, que tem de ser detida, de modo a deixar os idosos do lar morrerem de forma descansada.

Parace equisito. E é! Bubba Ho-tep é um cruzamento entre a demência institucional de Voando Sobre Um Ninho De Cucos e a crise existencial de meia-idade de As Confissões De Schmidt ou Beleza Americana, com a dimensão fantástica da triologia Evil Dead. Don Coscarelli recorre ao imaginário de Elvis Presley, cujo folclore permite uma mão cheia de diferentes abordagens. E como qualquer filme que tenha o Rei tem que ter estilo (algo que faltou a em Amor à Queima-Roupa), Bruce Campbell trata disso de maneira sublime, numa interpretação genial de um Johnny Bravo raquítico, impotente e de cabelos brancos.

Pode não parecer, mas Bubba Ho-tep é uma magistral metáfora acerca da vida de Elvis Presley, que se pode adequar à vida de cada um de nós: um homem abatido pelo tempo, que tem uma vida passada para endireitar, para poder viver os últimos dias em paz consigo próprio. Elvis é a própria múmia que enfrenta e o confronto entre ambos não é mais do que um exorcizar de fantasmas – Elvis é um bubba, que apesar de representar sempre o herói, quer em cima do palco, quer na grande tela, foi sempre um pacóvio na vida real, ao sabor da fama, das drogas e das mulheres; mas é também um Ho-tep, o faraó do rock, imortal e divino.

Bubba Ho-tep é um moderno clássico americano, com uma metade muito série B, cuja visualização encerra inúmeros desígnios, impossíveis de descrever por palavras. A maneira mais fácil de o fazer é através de uma hamburga, nomeadamente um Le Big Mac. E, com isto, esperar que vão em busca deste belo pedaço de película.

Título: Bubba Ho-tep
Realizador: Don Coscarelli
Ano: 2002

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