| CRÍTICAS | À Procura de Sugar Man

Rodriguez.
O nome, provavelmente, não vos diz nada. E não, não me estou a referir ao jogador da bola que cuspiu no prato que comeu e trocou o Benfica pelo Porto. Falo de Sixto Rodriguez, músico norte-americano que, no início dos anos 70, lançou a obra-prima Cold Fact (tem outro disco, mas não tão genial) e depois se eclipsou. Um cantor soul com uma voz especial, uma música com uns pozinhos funk e letras de intervenção, lado a lado com Bob Dylan. Uma pérola, para escutar logo no final desta prosa, graças ao maravilhoso mundo do Youtube ou do Spotify.

Rodriguez nunca teve sucesso nos Estados Unidos. Mas logo no início de À Procura de Sugar Man, descobrimos que o mesmo não se passou na África do Sul, onde é um dos músicos mais bem sucedidos de sempre. Mais famoso que o Elvis, os Stones e outros tantos. No entanto, pouco se sabe dele, além de que, pouco depois de lançar o segundo álbum – e com a carreira estagnada – se suicidou em palco, imolando-se em frente a toda a gente. Não não, esperem. Afinal deu um tiro na cabeça ao ser vaiado em palco. O quê? Também não? Esperem aí, isto cheira-me a esturro. Vamos lá então perceber o que se passou.

À Procura de Sugar Man é um trabalho de investigação que 1º) tenta descobrir a origem de Rodriguez e perceber o que lhe aconteceu; e 2º) analisa o seu impacto na África do Sul. É que o seu disco, Cold Fact, rebenta no país em pleno Apartheid e assume-se como principal voz de contestação, dando início à revolta. Aliás, À Procura de Sugar Man devia ser (e é-o, mais ou menos de forma inconsciente) sobre Rodriguez e a sua música na África do Sul. Porque garante que o homem esteve escondido até 1998, quando o resgataram do esquecimento, quando uma pessoa que já tenha ouvido a história antes do filme (ou que tenha acesso à Wikipédia) sabe que, antes disso, houve uma fase algo visível na Austrália.

Apesar de montar um bom documentário, com um porreiro trabalho de investigação e contornando de forma exímia o pouco material de arquivo disponível, À Procura de Sugar Man falha na parte das entrevistas, especialmente as mais sensíveis. O realizador, Malik Bendjelloul, só faz perguntas parvas e acerta sempre ao lado, deixando temas que podiam ser importantes por explorar. No entanto, quando chega ao último acto, À Procura de Sugar Man alia as suas duas vertentes – a vida e obra de Rodriguez e o impacto na África do Sul – e remata tudo com uma história sobre um homem bigger than life, humilde e sensato, que merece este filme tanto quanto merece que oiçamos a sua música. E merece também um Le Big Mac.

Título: Searching For Sugar Man
Realizador: Malik Bendjelloul
Ano: 2012

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