| CRÍTICAS | O Telefone Negro

Stephen King, o Mestre do Terror, pode ter uma criação literária prolífera, mas existem vários temas comuns que ajudam a construir o seu corpo de obra. São eles: a adolescência, os anos 70 (décadas de formação para o autor), os valores da amizade e do amor e uma espécie de horror cósmico, muitas vezes convertido na dicotomia entre destino e livre arbítrio. Joe Hill, filho de King e também um já prolífero autor de terror, é o autor do conto homónimo que agora é adaptado ao cinema, O Telefone Negro, e que aborda os seguintes temas: a adolescência, os anos 70 (numa altura em que os millenials são alimentados a colheradas de nostalgia por décadas que não viveram), os valores da amizade e do amor e uma espécie de horror cósmico. Talvez este último não seja verdade, mas estão a perceber onde quero chegar, não é?

O Telefone Negro é assim um filme que parece adaptado de uma obra de Stephen King, mas que na verdade adapta uma obra do filme de Stephen King. Ambientado na suburbia norte-americana nos anos 70 (década que, desde Stranger Things, voltou a confundir-se com o filme de aventuras de adolescentes), onde um serial killer conhecido como The Grabber (Ethan Hawke sempre com umas máscaras incríveis) rapta crianças, O Telefone Negro tem como protagonista Finney (Mason Thames), um adolescente com um pai problemático, que acaba por ser levado para a cave insonorizada desse assassino com trejeitos infantilizados.

O Telefone Negro podia então ser um filme de rapto tradicional, se não fosse um pormenor em particular. É que na cave onde está aprisionado Finney há um telefone preto, que apesar de estar desconectado da rede, recebe chamadas regulares. São as antigas vítimas do The Grabber que ligam a dar conselhos e dicas a Finney, para que ele possa fugir das garras daquele louco mascarado (e é precisamente aqui que o filme vai inscrever o seu título, tornando-se certamente numa das máscaras de referência no futuro próximo quando se falar de assassinos mascarados). É o destino e o horror cósmico a darem as mãos, para que tudo acabe bem no final e com a respectiva redenção. Afinal de contas, este é um coming of age.

O realizador Scott Derrickson, que tem construído uma carreira mais ou menos interessante, mais funcional do que propriamente criativa, tem o condão de, ao menos, não inventar. Com isso – e com a ajuda da personagem construída por Ethan Hawke, num pouco habitual papel de vilão – constrói um filme de terror certinho, mas derivativo, que leva a água ao seu moinho com rigor e discrição. Não precisa sequer de se esconder por trás de jump scenes ou gore desnecessário, se bem que a forma como molda o suspense é sempre previsível. No entanto, nos dias que correm, isso já é muito. Assim, o Cheeseburger não ofende ninguém e toma-se sem enfado, se bem que é preferível que não venha daqui nenhuma série interminável de sequelas que ninguém pediu.

Título: The Black Phone
Realizador: Scott Derrickson
Ano: 2022

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