| CRÍTICAS | Men

Em Mãe!, Jennifer Lawrence estava sossegada em casa, quando começa a receber visitas inesperadas e, de repente, tem que enfrentar toda o folclore bíblico de uma só vez. Men faz lembrar Mãe!, com Jessie Buckley a ir passar uma temporada sozinha num chalé isolado no meio da Inglaterra rural e a acabar por ter de enfrentar todo o patriarcado que lhe entra pela casa adentro. Ou seja, tal como no filme de Darren Aronofsky, Alex Garland não tem qualquer pejo de esticar a sua metáfora ao máximo, levando-a aqui até ao limite do grotesco. Mas vamos por partes.

Comecemos pela intriga. Jessie Buckley acaba por passar por um elemento traumático na sua vida, com o namorado (Paapa Assiedu), que teimará em regressar para a atormentar no formato de flashback durante todo o filme e, por isso, decide ir passar uns dias no meio de nenhures, para uma cura espiritual. Aluga um casarão no meio da Inglaterra e, apesar do anfitrião ser um castiço (Rory Kinnear), tudo parece perfeito, por entre o bucólico e o pastoral.

Só que já todos sabemos o que acontece quando uma jovem está numa casa sozinha. Das duas uma: ou fantasmas ou invasores violentos. Neste caso parece ser a segunda opção, quando surge um tipo nu a vaguear que parece forçar a entrada. Contudo, tendo em conta que todos os homens da aldeia são a mesma pessoa(!) – sim, Rory Kinnear dá corpo a todos os protagonistas masculinos do filme, o que pode querer dizer alguma coisa -, todos eles vão se comportar da pior forma possível e, consequentemente, revelarem-se uma ameaça para Jessie Buckley.

Existem vários sinais ao longo do filme que revelam logo que o verdadeiro inimigo de Men é o patriarcado (diz-se o patriarcado porque, se dissermos os homens, vai logo aparecer um ofendido que grita “mas não somos todos assim”), começando pelo título e passando pelo facto de todos os homens serem a mesma pessoa. Além disso, há ainda uma muito simbólica macieira no alpendre da casa. E o que faz Jessie Buckley assim que estaciona o carro? Vai a correr comer uma maçã! E, de repente, todos os pecados da humanidade hão de tombar sobre os seus ombros.

Jessie Buckley vai então sofrer de todos os tipos de ameaças de que as mulheres estão à mercê diariamente, desde o polícia que duvida da sua palavra, o padre que culpa a vítima ou o tipo do bar que dá-lhe uma dose de mansplanning. Mas porque Alex Garland achou que isso não seria suficiente, atira-lhe ainda uma forte dose de pagan horror que, inevitavelmente, vai fazer lembrar O Sacrifício. Tudo isso desembocará num body horror grotesco e bizarro, que fará de David Cronenberg um pai babado, e que nem o mau CGI nos faz recuar.

Com tudo isto parece que Men é um filmaço, não é? O problema é que não é, apesar de ter todos os ingredientes vencedores. Tudo isso por causa de um ritmo muito reflexivo e pausado, que nunca permite que o build up seja construído de forma eficiente, já que vai sempre deixando a tensão escapar-se pelas fendas dos dedos. Garland confia demasiado na parte visual e estética de Men, mas subestima o argumento, que é sempre mais uma ideia do que uma história. E o que poderia ser um filmaralhão, passa a ser só um Double Cheeseburger interessante qb.

Título: Men
Realizador: Alex Garland
Ano: 2022

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