| CRÍTICAS | Estranho Mundo

Olhamos para o cartaz de Estranho Mundo e o lettering do título é-nos familiar. Recorda-nos os DuckTales, pois caro. Que, por sua vez, já era influenciado pelo de Indiana Jones. Não admira, tendo em conta que Estranho Mundo tem como principal inspiração os mesmos filmes de aventura que inundavam as matinés domingueiras.

No entanto, como o próprio título indica, Estranho Mundo passa-se num universo muito próprio, chamado Avalónia, que nem sequer temos a certeza de ser na Terra (apesar das semelhanças). Merguhada num vale e rodeada por altíssimas e intransponíveis montanhas, Avalónia podia muito bem ser a civilização que estava por trás das montanhas da loucura, de HP Lovecraft. A diferença é que esta não tem nada de aterrorizador ou cósmico. É apenas uma cidade pacífica e adorável, como qualquer subúrbio norte-americano.

Jaeger Clade (Dennis Quase) é então um explorador demasiado intenso, tipo versão hiper-vitaminada do Indiana Jones, que sonha em ultrapassar as montanhas e descobrir o que há do outro lado. Jaeger fez dessa a missão da sua vida e arrasta o filho, Seracher (Jake Gyllenhaal), nessa mesma aventura interminável. Estranho Mundo abre precisamente com a sua última expedição, que é também, simultaneamente, o momento-charneira no futuro de Avalónia. É que, no interior das montanhas, a equipa chega a um impasse depois de Searcher ter descoberto umas plantas – o Pando – que são uma fonte de energia inesgotável e limpa. As opções são duas: a) voltar para trás e explorar aquela fonte de energia; b) continuar em frente e arriscar tudo. A equipa escolhe a primeira opção, mas Jaeger decide continuar sozinho, para nunca mais ser visto…

Estranho Mundo dá então um salto de 20 anos e estamos agora numa Avalóniabem diferente da que conhecemos no prólogo. Apesar de continuar isolada no vale, agora é uma cidade próspera e harmoniosa, como seria a civilização se nos tratássemos todos como nos tratamos nos e-mails que escrevemos. Tudo graças ao pando, essa planta incrível e maravilhosa. Jaeger nunca mais foi visto, tendo ficado imortalizado como herói local e Dearcher vive uma vida simples de agricultor, ao lado da esposa (Gabrielle Union), do filho (Jaboukie Young-White) e do cão. Até que o pando começa a falhar e o diagnóstico é claro: uma praga qualquer está a matar a planta. E, para salvar o futuro de AValónia, é preciso mergulhar no coração da Terra e descobrir a origem do problema.

Searcher é convocado para uma nova expedição com a equip original (sim, o pai há de ressurgir mais à frente), a família – com o cão incluído(!) – irá também porque senão não haveria filme (conveniente, hein?) e eis Estranho Mundo a começar verdadeiramente. Aliás, é precisamente na construção desse estranho mundo subterrâneo que o filme justifica toda a sua existência. É uma espécie de universo surrealista com um toque de new age, pintado a cores vibrantes, que parece uma versão 3D e mais espectacular de O Planeta Selvagem.

A partir daqui, tudo o resto é altamente derivativo, tal e qual o lettering no cartaz do filme. Abraça com força a sua mensagem moral, dos pais que teimam em viver os seus sonhos através dos filhos e destes que têm dificuldade em seguir os seus próprios caminhos, mas fa-lo com pouca determinação, com um humor gasto e um argumento rotineiro. Nem sequer há um vilão para incutir alguma excitação no filme, o que é um pouco estranho para um filme de aventuras. Estranho Mundo foi a pior estreia da Disney na última década e, apesar de não ser nenhum desastre, é mesmo um dos seus piores títulos desta fase recente. Já para não falar de que, naquela casa, a fasquia está sempre elevada. No entanto, era mesmo preciso uma estreia assim tão tímida, sem promoção e tão sem sal? Assim também não ajudas, oh Disney! Por isso, agora não te venhas queixar do Double Cheeseburger.

Título: Strange World
Realizador: Don Hall & Qui Nguyen
Ano: 2022

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