Desde Nosferatu que o Conde Drácula é um filão que alimenta a produção cinematográfica de forma mais ou menos regular. Ainda a semana passada chegou à internet umas fotos de Nicolas Cage vestido à Drácula para o seu próximo filme e as redes sociais vieram abaixo. Por isso, quando um filme se propõe, em 2016, a contar a história desconhecida do Drácula, das duas uma: ou tem grandes tomates ou tem altos níveis de arrogância. Ou então um pouco de ambos.
Como é sabido, apesar do Conde Drácula fazer já parte da cultura popular enquanto personagem independente, a sua origem remonta à figura de Vlad, o Empalador, um monarca da antiga Trabsilvânia que ganhou fama pela forma como tratava os otomanos que invadiam a sua terra. Por isso, é aí que Drácula – A História Desconhecida vai pegar, ensaiando uma versão alternativa da História, que envolve um vampiro milenar (Charles Dance a fazer aquilo que Charles Dance faz melhor).
É na abertura de Drácula – A História Desconhecida que ficamos a saber que Vlad (Luke Evans) foi um janissary, ou seja, um soldado do império otomano recrutado nos impérios dos Balcãs, que cresceu como irmão com o próprio Mehmed II (Dominic Cooper). Foi a lutar ao lado dos turcos que Vlad ganhou o cognome de Empalador, mas hoje é apenas um pai de família carinhoso, que governa a Transilvânia como testa de ferro de Mehmed II. No entanto, quando o líder otomano decide ir invadir Veneza, não hesita em pedir 1000 rapazes ao reino da Transilvânia, incluindo o filho de Vlad. Este toma aquela decisão como uma afronta, recusa, mata os enviados turcos e declara guerra a Mehmed II.
Até aqui tudo ok, Drácula – A História Desconhecida é apenas um action driven movie, que se baseia (muito) livremente em alguns factos históricos para reescrever a História. Então e o Drácula, perguntam vocês? Entra em campo precisamente a seguir. Vlad decide dar um pulinho a uma gruta, onde vive o tal vampiro milenar condenado às trevas (Charles Dance, sempre incrível a fazer papeis de mau, mesmo com toneladas de maquilhagem em cima) e pedir-lhe ajuda. Charles Dance fa-lo beber o seu sangue e, voilá, eis o nascimento de Drácula. Afinal a história nunca dita sobre o Empalador é que este sacrificou o seu corpo em nome do seu filho e do seu reino. Certo? Não! É que, afinal, se Vlad resistir a beber sangue humano em 3 dias, volta a ser humano. O que significa que ele só emprestou o seu corpo em nome do seu filho e do seu reino. Não tão gracioso, assim.
Além disso, Vlad ganha também poderes especiais. Transforma-se em morcego, tem a visão infravermelha do Predador, super-velocidade e super-força. Na verdade, o Drácula – A História Desconhecida é a origem do Morbius, mas em bom. Mais uma vez, tudo ok até aqui e nada contra estas liberdades poéticas. O cinema está cheio delas. O problema é que é a partir precisamente daqui que a porca torce o rabo e os buracos no argumento começam não só a acumularem-se, como a aumentar de tamanho. Se Vlad só tem três dias para acabar com a guerra porque é que não vai logo à procura de Mehmed para lhe cortar a cabeça?
Apesar de tudo, Drácula – A História Desconhecida é um eficaz série b, que não tem medo de abusar do factor xunga para conseguir bons efeitos visuais e estilísticos. O CGI também é eficaz, as cenas de luta são quase sempre legíveis e, se conseguirmos desligar o cérebro no momento certo, vê-se sem enfado. É um filme esquecível? É, absolutamente. Mas mesmo assim, é um Double Cheeseburger melhor que o Morbius e que todo o universo cinemático dos monstros da Universal, que entretanto vieram cancelar quaisquer ideias de transformar isto num franchise de maiores dimensões.
Título: Dracula Untold
Realizador: Gary Shore
Ano: 2014