No cinema, tal como em tudo na vida, conta muito ter o coração no sítio certo. Ou seja, um filme pode nem ser particularmente espectacular ou um prodígio da arte cinematográfica, mas se tier um coração grande e honesto acaba por compensar muita coisa. Aliás, os anos 80 foram mesmo férteis num tipo muito específico de feel good movie.

Os Três Fugitivos é um desses exemplos e um filme que tem outra particularidade. É que se trata de um remake de um original francês, Les Fugitifs, que também teve grande sucesso na bilheteira, que foi realizado exactamente pela mesma pessoa. Francis Veber ainda fez mais um filme em Hollywood e depois regressou a França, mas nunca mais alcançou um sucesso semelhante, tanto num como no outro país.

Os Três Fugitivos é então a história de um tipo meio desajeitado (Martin Short) que assalta um banco, mas a sua despreparação e inexperiência obrigam-no a fugir com um refém. O problema é que essa pessoa escolhida aleatoriamente de entre todos os clientes acaba por ser Nick Nolte, um conhecido assaltante de bancos que acabara de sair da prisão na cena de abertura do filme. Por isso, quando os inspectores James Earl Jones e Alan Ruck o vêem na cena do crime tomam-no como cúmplice, incapazes de aceitar a coincidência.

É certo que um dos trunfos de Os Três Fugitivos é ter um elenco com actores a sério, mas na verdade o mais importante no seu sucesso é mesmo ter personagens que vão além dos meros bonecos de cartão sem profundidade. Os Três Fugitivos cria uma situação divertida – um ladrão sem experiência + 1 refém que é um ladrão com um longo cadastro, a quem se há de juntar uma criança -, mas não se limita a espremer esse gimmick até à última gota. O filme tem mais coisas a dizer. E a mais importante é a razão pela qual Martin Short assaltou o banco: uma filha em casa, deprimida pela morte da mãe, a quem precisa de colocar comida na mesa.

Na segunda metade dos anos 80, além deste houve mais dois feelgood movies de grande sucesso com a palavra “três” no título. E, curiosamente, Os Três Fugitivos parece ser uma súmula de ambos. De Três Amigos retira a estrutura do grupo dysfunctional em fuga; e de Três Homens e um Bebé retira a relação nem sempre fácil entre adultos e crianças. E, exactamente pelos mesmos motivos desses dois títulos, também Os Três Fugitivos funciona.

Obviamente que nem tudo é perfeito no filme de Francis Veber, antes pelo contrário, especialmente no laço que rapidamente se forma entre Nick Nolte e a pequena Sarah Rowland Doroff. Mas isso é compensado pelas personagens secundárias que vão surgindo, as situações rocambolescas e, sobretudo, o não forçar em demasia patetadas físicas e caretas, que são um clássico neste tipo de comédias. Por isso, só com o seu coração enorme, Os Três Fugitivos saca com grande pinta um McChicken.

Título: Three Fugitives
Realizador: Francis Veber
Ano: 1989