A geração Z continua a adaptar os sub-géneros do cinema aos seus tempos. Depois de redefinir o teen movie em Do Revenge e Booksmart – Inteligentes e Rebeldes, chegou a vez de remodelar o slasher, adaptando-o aos seus ideias e valores. Até porque o Gritos 6, apesar dos esforços e boa vontade, já não cumpre a sua função.
Bodies Bodies Bodies é então a história de um grupo de adolescentes que vão passar um fim-de-semana na mandão de Pete Davidson durante a passagem de um tornado. Todos eles são filhos de famílias ricas, excepto Maria Bakalova, a namorada emigrante de Amandla Stenberg. E, por isso, vemos logo que a perspectiva social vai ser forte. A consciência de classe poderá não ser o motivo que vai fazer com que os jovens comecem a surgir mortos um a um, mas virá inevitavelmente ao de cima e será a principal fonte de tensões na casa. White privilege is a bitch.
Na verdade, mais do que um slasher, Bodies Bodies Bodies é um whodunnit. Aliás, como no recente Glass Onion – Um Mistério Knives Out (definitivamente um sub-género em estado de graça), também os jovens hão de jogar uma espécie de cluedo caseiro (mas com drogas e álcool à mistura), que depois irá escalar para algo mais real. Pode não haver grandes momentos gore, mas a realizadora Halina Reijn sabe jogar com os códigos do género para alcançar os mesmos fins – as relações reprimidas, a tensão acumulada, os jogos de sombras e a música sombria.
No final, Bodies Bodies Bodies ainda nos atira uma espécie de twist final, que mais não é do que um daqueles finais tongue in cheek que Eli Roth nos habitou a incluir nos seus filmes e que servem quase para desarmar o torture porn. Bodies Bodies Bodies é o slasher para a geração Z, uma lição para quem quer fazer um filme do género sem necessitar de um assassino específico e um McRoyal Deluxe que cumpre a todos os níveis.
Título: Bodies Bodies Bodies
Realizador: Halina Reijn
Ano: 2022