| CRÍTICAS | Porquinha

Uma jovem que é vítima de bullying todos os dias, enche o saco até mais não e diz basta: it’s payday, bitch!
Já todos vimos este filme, certo? Certo. A novidade aqui é que Porquinha, a sensação do cinema de terror espanhol que conquistou a última edição do Sitges, não é esse filme. Sim, há uma miúda que é vítima de bullying constantemente por causa do seu peso (óptima Laura Galán, a dar literalmente o corpo ao manifesto) e, de repente, os seus abusadores desatam a desaparecer um a um. Mas Porquinha não é o revenge movie que parece à primeira vista.

É certo que a realizadora Carlota Pereda parte desse molde, como quem esteve a ver uma maratona de revenge movies no feminino no último fim-de-semana (Thriller – A Cruel Picture poderia ser aqui um bom ponto de partida), mas depois de dispor todos os elementos no sítio, Porquinha diverte-se a trocar-nos as voltas. Sim, há um serial killer que vai dar uma lição aos bullies da aldeia, depois de uma cena particularmente perturbadora e difícil de ver, em que Carlota Pereda estica o torture porn até aos limites do suportável. Mas a vingança é outra.

É que Laura Galán estabelece contacto visual com o assassino (Richard Holmes) no exacto momento em que ele recolhe duas das suas colegas abusadoras para a parte de trás do seu monovolume e cria-se ali uma espécie de conexão. Afinal de contas, percebemos também que aquele tipo silencioso em ali um passado traumático e recalcado qualquer. A questão agora é: o que vai fazer Laura Galán? Irá denunciar o que viu ou irá calar-se para todo o sempre, porque afinal o karma is a bitch, não é verdade?

É este sentimento de culpa que se instala em Porquinha e é essa a principal mensagem do filme. Laura Galán, que não só é vítima de bullying por parte dos colegas da escola, como também de abuso emocional por parte da mãe irritante (a veterana Carmen Machi), vai ser apertada pela polícia, pela mãe de uma das miúdas desaparecidas e pelo grilo falante sentado no seu ombro, que a coloca à prova entre fazer o correcto ou, pelo menos uma vez na vida, sair por cima. É pertinente, dá a Porquita um inesperado twist e só é pena que Carlota Pereda não saiba muito bem o que fazer com isto, por entre os códigos do slasher e do thriller psicológico.

Há uma parte em Assassinos Natos em que Woody Harrelson invade a casa de Juliette Lewis, mata-lhe os pais e ambos embarcam numa aventura romântica e sangrenta. Porquinha é esse mesmo filme, mas, neste caso, Juliette Lewis fica com dúvida em o acompanhar. E é a partir dessa dúvida que s instala que o filme se cumpre, se bem que não atinge as expectativas criadas (e tenta compensar tudo com um final bem sangrento). Porquinha nasceu de uma curta-metragem, estendendo-a e melhorando-a. Talvez agora precise de vir para aí um remake qualquer, para melhorar o Cheeseburger ainda mais.

Título: Cerdita
Realizador: Carlota Pereda
Ano: 2022

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