Estava a ler há uns dias atrás, na internet, uma daquelas listas dos filmes favoritos de malta conhecida que me deixam sempre a impressão que são falsas que era sobre os filmes mais subvalorizados na opinião do Quentin Tarantino. Fiz um scroll rápido para baixo e, por entre umas coisas mais obscuras, um título chamou-me à atenção: A Relíquia, realizado por Peter Hyams, esse parceiro de Jean-Claude Van Damme. Fui espreitar mais sobre o filme ao imbd e a sinopse ganhou-me logo: um detective e uma antropologista têm que destruir uma espécie de lagarto-deus egípcio que anda a provocar uma carnificina num museu de Chicago. Como assim? Um série b manhoso do À Noite no Museu?
Ora bem, o tal detective é Tom Sizemore, a fazer o seu habitual papel de durão e com uma piada recorrente sobre o tribunal ter dado a custódia do cão à ex-mulher. Mas como raio se obtém a custódia de um cão?, há de se questionar às tantas, dando voz às nossas mesmas dúvidas. A antropologista é Penelope Ann Miller, que trabalha no Museu de História Nacional de Chicago e prepara uma candidatura para uma nova bolsa de investigação. Quanto ao deus-lagarto tem pouco ou nada de Jim Morrison, infelizmente: é uma criatura gigante e mutante, que veio num barco do Brasil juntamente com uns artefactos de uma tribo qualquer que fez um pacto com Satanás(!) – o Kothoga – e que vai desatar a matar gente, numa carnificina escalante.
Durante a primeira metade, A Relíquia é um policial intenso e straight to the point. Sizemore, com o seu estilo de quem não tem tempo para sorrir porque tem em casa mais um serão de sofrimento e bebida à espera, vai conduzindo a investigação no museu desde a noite em que surge o primeiro cadáver, interrogando testemunhas (a antropologista, com quem vai desenvolver uma química romântica levezinha, a directora (Linda Hunt), o arqueólogo ancião (James Whitmore) – e especialista em surperstições(!)…), acompanhando a médica legista numa óptica cena em que é dissecado um corpo decapitado e dilacerado ou lidando com as pressões exteriores, incluindo a do presidente da câmara, para que se realize a gala de inauguração de uma nova exposição sobre… superstições(!), onde vai estar presente tudo o que é a elite local.
No fundo, A Relíquia mais que não é do que um build up para essa inauguração finória, onde a criatura vai finalmente revelar-se ao mundo. E é aí que o filme se transforma numa espécie de Alien – O Oitavo Passageiro, mas com um museu em vez de uma nave. Aliás, até há uma cena reminescente do cara-a-cara entre Sigourney Weaver e o xenomorfo, com o Kothoga a lamber de cima a baixo Penelope Ann miller. A diferença é que esta criatura é um enorme boneco de borracha, que mal se consegue mexer, e que torna tudo muito mais risível. Além disso, ainda há uma cena final, em que tudo explode e, como já não era possível aproveitar mais efeitos-especiais práticos, salta-se para um festim de mau CGI, que é igualmente risível.
Não sei se A Relíquia é subvalorizado, como defende Quentin Tarantino, mas não é tão mau quanto a sinopse fazia prever. É um série b sólido, que consegue resistir sempre à patetice (afinal de contas, é um filme sobre uma espécie de deus-lagarto que come pessoas num museu…) e que sabe jogar com a tensão e com o gore, antes de revelar o monstro de borracha. Para xungaria, é um Double Cheeseburger que entretém, não ofende e, provavelmente, irá dar para tema de conversa um par de vezes numa qualquer noite de copos.
Título: The Relic
Realizador: Peter Hyams
Ano: 1997