| CRÍTICAS | Ameaça Extra-Terrestre

Ameaça Extra-Terrestre, filme a partir do livro de memórias de Travis Walton sobre a sua suposta abdução alienígena, abre com a mensagem “baseado em factos reais”. Isso é que é wishful thinking… mas depois lemos na internet que o próprio Walton renegou o filme, por não ter nada de parecido com as suas lembranças às mãos dos seres de outro mundo. A explicação dos produtores vale ouro: as memórias de Travis Walton eram iguais a de todos os outros abduzidos e, por isso, pouco emocionantes. Já dizia o outro que, entre factos e ficção, imprima-se a segunda.

Ameaça Extra-Terrestre, cujo título original pede emprestado um dos versos de Smoke on the Water, dos Deep Purple, para efeitos dramáticos, é então a história não só desse caso, mas das suas consequências, tanto para o próprio Travis Walton (interpretado por D. B. Sweeney), como especialmente para o seu melhor amigo (Robert Patrick). Aliás, é precisamente este a personagem principal do filme, até porque era ele o líder natural do grupo de madeireiros que trabalhava nas montanhas do Arizona na noite do incidente.

A primeira parte do filme, que é também a melhor, relata o que se passou. Seis homens participaram para mais uma jornada de trabalho a cortar árvores e só cinco regressaram. A polícia local chama as autoridades, personificadas na figura de Noble Willingham, e os interrogatórios começam. Obviamente que ninguém acredita na versão daqueles homens e as suspeitas acumulam-se. O filme segue em modo de thriller policial, o realizador Robert Lieberman consegue ir jogando com o suspense e os flashbacks vão sendo entremeados com o trauma que aquele episódio deixou no grupo, onde há sempre demasiada testosterona e masculinizada tóxica à solta.

E quando já estamos quase a acreditar que Lieberman vai manter-se no filme todo pela sugestão e deixar sempre fora de campo aquela chocante visão de homenzinhos verdes com antenas, eis que surge um disco voador em forma de hamburga, com as cores de um filme do Panos Cosmatos, a cumprir o lugar-comum de todos os filmes de raptos por extraterrestre. Um disco voador, uma luz e o tipo a levitar. Curiosamente, a partir daí Ameaça Extra-Terrestre nunca mais se recompõe.

Cinco dias depois do desaparecimento, Walton há de reaparecer, todo nu, molestado e traumatizado. Há de continua a haver a desconfiança da população, autoridades a insistirem no teste do polígrafo e o casamento de Robert Patrick a ressentir-se a desmoronar-se, mas tudo com a profundidade e economia narrativa de um telefilme (mas dos manhosos, não os das actuais plataformas de streaming). Mas antes de chegarmos ao final, que é altamente frustrante e em anti-climax, Ameaça Extra-Terrestre há de ainda conseguir ter alguma relevância.

Estou a falar da parte em que Travis Walton revive a sua experiência na nave – a tal que o próprio desconsiderou – que, se não fosse o filme tão mau, poderia mesmo ter redefinido o género. É que os extraterrestres do filme não se parecem com nenhum outro alien movie, com efeitos-especiais orgânicos e práticos altamente eficientes, que resultam numa sequência verdadeiramente assustadora e elogiada por muito boa gente de bom gosto inatacável (William Friedkin consta que é fã acérrimo). Lenbram-se de vos dizer que o disco voador parecia uma hamburga? Era um Cheeseurguer voador.

Título: Fire in the Sky
Realizador: Robert Lieberman
Ano: 1993

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