| CRÍTICAS | Doidos Por Mary

Em Doidos Por Mary, Cameron Diaz (ou seja, a Mary do título, por quem todos vão estar loucos) diz, mais coisa menos coisa, que o homem da sua vida tem que gostar de Harold e Maude, a maior história de amor de todos os tempos, ser arquitecto e ter uma casa no Nepal. A este humilde escriba só falta uma das partes da equação para ser um candidato elegível, mas Matt Dillon, Lee Evans e Chris Elliott estão mais atrás e vão ter que improvisar e tomar alguns atalhos.

Doidos por Mary é a comédia que pega nessa imagem da mulher fatal, por quem todos se apaixonam, e eleva o cliché ao máximo expoente da loucura (olá Ornatos). E a Cameron Diaz assentava bem o papel. Tinha acabado de sair de A Máscara – onde, basicamente, fazia o mesmo papel -, estava na flor da juventude e agarrava com ambas as mãos o lugar de namoradinha da América, que estava vago desde que Sandra Bullock e Meg Ryan tinham começado a fazer outras coisas além das comédias românticas.

As comédias dos anos 90 não têm envelhecido propriamente bem, especialmente a partir de uma perspectiva socialmente mais consciente (American Pie – A Primeira Vez, Gigolo Profissional, Ace Ventura – Detective Animal… a lista é interminável), já que abusam (e se baseiam sobretudo) em esticar estereótipos e a explorar piadas sexuais (e sexistas) ou escatológicas (se bem que não há nada de mal com o humor escatológico. Cocó ihihih). No entanto, ao contrário do que seria de esperar, Doidos Por Mary é um título que contraria essa tendência e que é bem mais inteligente do que o humor de caserna. Obviamente que não é perfeito – há piadas capacitistas e, claro, todo o filme assenta numa ideia de normalização do stalking -, mas não o faz de forma totalmente gratuita.

Além disso, Doidos Por Mary sobressai porque tem vários momentos explosivos, daqueles que se tornam memoráveis e que são bem explorados pelos manos Farrelly, já que nunca vão pela via mais fácil de se limitarem ao gag visual ou físico. É claro que a cena em que Cameron Diaz coloca gel no cabelo é provavelmente a cena mais conhecida do filme, mas existem outras que não lhe ficam atrás: Ben Stiller a trilhar a pila no fecho das calças (ugh, causa-me sempre arrepios na espinha a lembrança da cena), o diálogo sobre o plano de exercícios de 7 minutos que podia pertencer a um episódio do Seinfeld ou Matt Dillon a reanimar o cão drunfado.

Os irmãos Farrelly utilizam os códigos da comédia romântica para o desconstruírem com graça e há outro pormenor que, normalmente, é pouco falado e merece mais o nosso amor. Falo da banda-sonora de Jonathan Richman (vénias encarpadas com saída à rectaguarda), com o próprio a fazer de bardo que dá música ao filme e que precisava de uma banda-sonora à altura.

E quanto à história de Doidos Por Mary? O filme conta a história de Ben Stiller, um nice guy que faz lembrar o Ted de Foi Assim que Aconteceu com todo o seu idealismo romântico (aliás, até se chama Ted também e tudo) e que, uma década depois, continua sem conseguir esquecer a sua paixão do liceu. Por isso, decide ir procura-la e tentar conquista-la, mas pelo meio vai ter a concorrência de mais uma cheia de homens que se perdem de amores por ela e que seguem todos a mesma estratégia, a de tentarem ser quem Mary quer que eles sejam, esquecendo a regra número 1 de todas as histórias de amor: a beleza que interessa é a interior. Um Le Big Mac pateta, mas um Le Big Mac que continua a fazer rir.

Título: There’s Something About Mary
Realizador: Bobby Farrelly & Peter Farrelly
Ano: 1998

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