Se olharmos à distância, o sucesso de Weird Al Yankovic faz tanto sentido quanto um frigorífico no Pólo Norte. Afinal de contas, como é que um tipo consegue criar e manter por várias décadas uma carreira internacional a fazer paródias de canções famosas? No entanto, se olhares de perto, percebemos facilmente que Weird Al não é nenhum Jaimão ou um Fernando Pereira. As suas versões têm qualidade, alguma graça e não se limitam a repetir ad eternum os melhores trocadilhos brejeiros.
O seu humor nunca é (ou é-o muito raramente) brega. É antes completamente louco. Weird Al Yankovic é sucessor de uma linha muito respeitável de gente, que incluir o Dr. Demento, Tiny Tim ou o Pee-Wee Herman. É tudo gente que não chegou nunca a Portugal, a não ser de forma indirecta (os filmes do Tim Burton ou as canções dos Mr. Bungle, por exemplo) ou pontual (a como o próprio Weird Al). A excepção será, talvez, a revista Mad, que havia em Portugal na edição brasileira nos anos 80 e que passou durante algum tempo na Sic Radical. Por isso, não admira que um filme como Weird – The Al Yankovic Story não tenha grande expressão em Portugal. É pena.
Contudo, os mais atentos sabem que Weird – The Al Yankovic Story já tinha sido feito. E não falo de UHF, o outro biopic fictício que o próprio Weird Al fez nos anos 80, até porque ninguém o viu. Falo antes de Walk Hard – A História de Dewey Cox, o filme que parodia os biopics de artistas musicais, recriando episódios famosos e exagerando certos lugares-comuns, como os escassos de drogas, sexo e álcool. O que, no caso de Weird Al, ganha um duplo significado irónico, já que este sempre pautou a sua carreira por uma atitude muito tranquila, abstémia e longe de polémicas. O que também contribui para o street cred que tem.
Weird – The Al Yankovic Story faz tudo isso, mas utiliza a sua própria vida e obra como molde. E, por isso, esse jogo de espelhos meta-referencial também tem graça, até porque recorre a muita gente conhecida. Há a Madonna (Evan Rachel Wood em modo cartune da Madonna) em papel pivotal (incrível como ela aceitou), a tentar aproveitar-se do sucesso de Weird Al; há os Queen a levarem tampa para uma colaboração no Live Aid; e há o Michael Jackson a roubar-lhe a sua única criação original, Eat it, e a fazer a sua própria paródia, Beat it. Também há Andy Warhol e Salvador Dali, mas desconfio que essa parte nunca aconteceu.
Weird Al Yankovic é interpretado por Daniel Radcliffe e há também a destacar a forma como tem gerido a sua carreira, aceitando de quando em vez fazer filmes parvos e coisas completamente fora da caixa. E isso faz com que também gostemos dele. Weird – The Al Yankovic Story não nos vai fazer querer comprar nenhum álbum de Weird Al Yankovic (talvez rever apenas o Fat no Youtube), mas isso não implicada que desgostemos dele, nem tão-pouco que mandemos vir um McChicken para acompanhar a visualização do filme.
Título: Weird – The Al Yankovic Story
Realizador: Eric Appel
Ano: 2022