| CRÍTICAS | A Voz das Mulheres

Se olharmos para o título original de A Voz das Mulheres (algo que, traduzido livremente para português, dá algo como mulheres a falar), é simultaneamente o título, a sinopse e a nota de intenções. Ninguém pode dizer que não sabe ao que vai ao ir ver o filme. É que este é, tanto formal como tematicamente, um filme sobre mulheres a falar. Literalmente. Na forma, baseia-se no diálogo e na discussão de meia dúzia de mulheres sobre o seu futuro; e, no tema, é m filme sobre ideias e conceitos, a saber: o perdão e o castigo, o feminismo e o patriarcado, a justiça e a vingança.

A Voz das Mulheres parte então de um facto verídico (e grotesco) para reimaginar uma possibilidade de reflexão sobre estes temas sensíveis e pertinentes, que são tranversais a todo o mundo. O episódio em causa remonta aos anos 90, mais especificamente a uma comunidade menonita ultra-conservadora, onde se descobriu que as mulheres – das mais novas às mais velhas – eram drogadas com tranquilizantes para gado e violadas repetidamente à noite. Quando acordavam de manhã a sangrar, batidas e grávidas(!), os homens diziam-lhes que era castigo de Deus por qualquer pensamento pecaminoso que haviam tido(!). O que A Voz das Mulheres reimagina é o Day after, em que as mulheres representantes da comunidade se reúnem durante um dia para decidirem o que fazer de entre três opções: perdoar, ficar e lutar ou partir.

É inevitável a comparação com Doze Homens em Fúria. Tal como esse, um grupo de mulheres cai entrar numa sala, de onde só sairá com uma decisão importantíssima. Por isso, o grupo é suficientemente eclético para abordar todo cumprimento do espectro das questões colocadas. E do grupo destaca-se a justa e sonhadora One (Rooney Mara), a Irascível Salome (Claire Foy) e a traumatizada Mariche (Jessie Buckley). Frances McDormand também anda por lá, mas a sua presença é mais de legitimidade, como que aprovando a adaptação do romance homónimo de Miriam Toews.

O filme anda então em redor dessa ideia da palavra, até porque ninguém discute assim. As reflexões são mais profundas e elaboradas e, por isso, literárias, mas sendo suficientemente escorreitas para nos envolver e querer seguir a discussão até ao fim. É, contudo, uma discussão sem respostas correctas às perguntas que coloca. Por isso, o importante não é a conclusão, mas sim o processo de raciocínio. Assim, o filme de Sarah Polley é sempre mais reflexivo do que imersivo, aal como a sua própria realização, que é mais ilustrativa do que cinematográfica. É um filme bonito, cujo McChicken vai sobretudo pelo que tem para dizer e não como mostra o que diz.

Título: Women Talking
Realizador: Sarah Polley
Ano: 2022

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