| CRÍTICAS | Creed III

Os dois primeiros Creed são bons filmes, mas… será que são mesmo? É certo que fazem uma transição suave do legado de Sylvester Stallone/Rocky Balboa para um novo herói, Adonis Creed (o filho do eterno rival de Rocky), mas será que não se limita a navegar as ondas da nostalgia? À medida que a distância temporal vai aumentando e nos vai permitindo olhar para trás de forma mais racional e menos emocional, tudo leva a crer que sim. Seja como for, Creed III está aí para acelerar as coisas.

É que este novo tomo da saga Rocky (será o novo filme da série) é o primeiro sem Sylvester Stallone – que, entretanto, veio para as redes sociais lavar roupa suja e chorar um bocadinho sobre o produtor lhe ter roubado os direitos das personagens -, o que significa que inaugura uma nova fase. Além disso, Creed III também evita Viktor Drago (Florian Munteanu, que fazia de filho de Ivan Drago no filme anterior), como o Taremi foge do toucinho. Quer dizer, ele aparece no filme, mas acho que nem sequer tem uma fala. Aparece lá de fugida só para lhe partirem as mãos e fica descartado para bingo. Tendo em conta que há planos para um spin-off da sua personagem, parece uma decisão um pouco… desrespeitosa.

Creed III vai então noutra direcção. E, para isso, recua até às origens de Adonis Creed (Michael B. Jordan), revelando um trauma profundo que, apesar de duro, tinha passado despercebido nos dois filmes anteriores(!). Esse trauma vem ao de cima quando o antigo amigo de infância de Adonis, Damian Anderson (impressionante Jonathan Majors), sai da prisão e reentra na sua vida. Damian era um boxista muito promissor, mas que acabou preso por 20 anos, pagando mais ou menos por um crime que Adonis provocou. Por isso, há contas para acertar.

Assim, depois de Creed – O Legado de Rocky ter refeito Rocky e de Creed II ter refeito Rocky IV, toda a gente estava à espera que este novo episódio refizesse Rocky III. Eu, pelo menos, estava. Estava a contar que Creed III fosse buscar um rival que fosse um saco de músculos qualquer conhecido da nossa praça, um Mr. T dos nossos dias. Tanto podia ser o Dave Bautista como podia ser o Conor McGregor. Mas não, Michael B. Jordan – que assumiu aqui a cadeira de realizador também, fazendo um percurso semelhante ao de Stallone, que também realizou Rocky III – preferiu romper por completo com a saga Balboa e criar uma linha narrativa nova.

Damian Anderson vai ser então um velhote que vai ter a sua primeira luta profissional contra o campeão em título e que acaba por obrigar o próprio Adonis Creed a voltar a pegar nas luvas. Por isso, apesar de tudo, nada de novo em Creed III. Aliás, o filme até parece que procura utilizar todos os clichés do filme de boxe que ficaram por usar nos últimos dois filmes, inclusive uma montage musical para o treino final. E, quer dizer, com todo o dinheiro que Adonis tem, capaz de comprar o mais avançado ginásio do mundo, e o seu treino vai ser puxar um avião? E alguém ainda traz um espelho para o meio da pista(!), para uns planos fixes? Creed III é derivativo até à quinta casa, se bem que procura faze-lo por um caminho mais negro e atormentado. Mas Michael B. Jordan não é a pessoa indicada sequer para o filme.

O que Creed III tem de novo é a forma como Jordan filma as cenas dentro do ringue. É uma espécie de dança que Jordan monta entre os lutadores e a câmara, que apesar de ter alguma piada, é ultra-coreografado, quase como um filme de artes marciais. Isso significa que, depois dos primeiros minutos de surpresa, o efeito se desvanece e as cens de luta perdem também emoção e impacto. Já para não falar da opção de filmar quase todo o combate final e decisivo de forma onírica, quase como se fosse um sonho, que não poderia ser mais anti-climática. Creed III é o pior filme dos Creed e, de todos os nove episódios, é capaz de estar ao nível de um Rocky V (ou pior). Por isso, se é para começar a ir pelos Happy Meals fora, mais vale parar já por aqui.

Título: Creed III
Realizador: Michael B. Jordan
Ano: 2023

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