| CRÍTICAS | O Filho

O Pai é um filme bem mais interessante do que parece à primeira vista porque não se limita a ser um simples melodrama sobre um pai de certa idade que começa a perder as suas faculdades mentais. Florian Zeller, o realizador que passava para o grande ecrã a sua peça de teatro homónimo, fazia-o utilizando os códigos de género do thriller e do filme de mistério, dando-lhe uma camada extra de interesse.

Assim, após o sucesso de O Pai, com direito a Oscar e tudo para Hopkins, era mais do que expectável que Florian Zeller adaptasse também a sua sequela não oficial dessa peça. Não demorou muito, apenas um ano e meio depois para O Filho chegar ao cinema. E novamente com o francês ao leme. A diferença é que, desta vez, O Filho é um melodrama puro e duro, sem truques cinematográficos nem outras leituras para se ler nas entrelinhas.

Apesar do título, O Filho é sobre outro pai, mas que é filho também. Aliás, a curta cena em que Hugh Jackman visita o seu progenitor (um Anthony Hopkins a retribuir o favor a Florian Zeller) é mesmo a melhor parte de todo o filme – breve, mas marcante. Hugh Jackman é assim um executivo de sucesso, prestes a dar um passo profissional muito importante ao embarcar numa aventura política e que acaba de ter o segundo filho (que é o primeiro com a segunda mulher, Vanessa Kirby), que se vai ver a braços com uma frise familiar: o seu filho mais velho, Zen McGrath, está a lidar com uma depressão aguda.

Somos confrontados com o problema ao mesmo tempo que o próprio Hugh Jackman. Certa noite, sem que nada o fizesse prever, a ex-mulher (Laura Dern) bate-lhe à porta e dá-lhes as novidades: o filho há mais de um mês que não mete os pés nas aulas, apesar de sair todas as manhãs com a mala com os livros e regressar ao fim do dia. Laura Dern explica que já não reconhece Zen McGrath, que o diálogo entre ambos se esgotou há muito e, pior ainda, que tem medo do filho e do seu olhar vazio. Rapidamente pensamos em Temos de Falar Sobre Kevin e começamos a entusiasmar-nos com o filme.

No entanto, assim que aparece Zen McGrath e vemos aquela frágil figura, com dificuldades em representar, dificilmente conseguimos ultrapassar esse miscast. A sua prestação, sempre em esforço, não ajuda a criar impacto, ainda para mais porque o filme se limita a empilhar traumas e drama. O Filho quer ser o Kramer Contra Kramer dos pais e filhos (e até lá está Laura Dern para fazer uma rima muda com outro filho de Kramer Contra Kramer, Marriage Story), mas é demasiado esquemático e cheio de lugares comuns para poder ter algo de pertinente para dizer: milhentas cenas de Hugh Jackman a olhar pensativo para coisas, reuniões em edifícios altos cheios de pessoas de fato e gravata para mostrar como é um tipo ocupado, etc.

Não que O Filho não tenha coisas importantes para dizer. Florian Zeller vai bater a várias portas interessantes – a saúde mental, claro, a incomunicabilidade entre pais e filhos, as expectativas familiares e, claro, aquele momento fundamental nas nossas vidas em que nos apercebemos que, por mais que queiramos evitar, nos estamos a transformar nos nossos progenitores -, mas nunca fica tempo suficiente em nenhuma delas para ver o que elas têm para lhe dizer. Por isso, apesar das boas intenções, O Filho é apenas um drama a forçar a lágrima e um Happy Meal esquecível que pouco ou nada tem a ver com o anterior O Pai.

Título: The Son
Realizador: Florian Zeller
Ano: 2022

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