| CRÍTICAS | Homem-Formiga e a Vespa – Quantumania

Pé ante pé, os filmes do Homem-Formiga foram-se consolidando no universo cinemático da Marvel, seguindo o mesmo mote dos próprios filmes. Utilizando as características do seu herói (a capacidade de encolher até ao tamanho de uma formiga ou de crescer como um gigante), Scott Lang (Paul Ruud) lembra-nos constantemente de que, não importa o quão pequeno somos, podemos sempre fazer a diferença. E, consciente ou inconscientemente, é isso que os filmes do Homem-Formiga têm feito. Apesar de ser um herói secundário da Marvel, rapidamente conquistou o seu lugar depois de um óptimo filme de estreia (o primeiro Homem-Formiga) e agora não só se torna na primeira trilogia a ser toda realizada pelo mesmo realizador – Peyton Reed – desde o Homem-Aranha do Sam Raimi, como Homem-Formiga e a Vespa – Quantumania faz uma ponte determinante para a próxima fase dos Vingadores.

Ao contrário dos tomos anteriores, Homem-Formiga e a Vespa – Quantumania é a primeira vez que não tem nada de novo para contar. É que enquanto Homem-Formiga dava-nos a origem de Scott Lang, Homem-Formiga e a Vespa introduzia-nos a Vespa (e o mundo quântico). Por isso, Peyton Reed tinha carta branca para fazer o que quisesse, desde que o vilão fosse Kang (Jonathan Majors), o Conquistador de Mundos, que em breve irá fazer a vida negra aos Vingadores. E, por isso, atirou-se de cabeça para o universo quântico.

É que este, tal como multiverso, está cheio de possibilidade infinitas. E, além disso, como ninguém sabe como ele é, permite realizar qualquer coisa. No fundo, Homem-Formiga e a Vespa – Quantumania não é muito diferente de Doutor Estranho no Multiverso da Loucura. Aliás, Homem-Formiga e a Vespa – Quantumania até é bem mais louco e leva mais longe o seu risco de aventura. É que cria literalmente todo um mundo do zero, com paisagens new age e muitos monstros e criaturas que fazem o filme parecer uma versão super-vitaminada da cena da cantina em Star Wars – Uma Nova Esperança. Há então bichos para todos os gostos, de todos os géneros e feitios, alguns que parecem mesmo saídos de um episódio de Rick e Morty, tal é o absurdo (como a criatura gelatinosa obcecada em buracos, já que o seu corpo não tem nenhum…).

O Homem-Formiga, a Vespa (Evangeline Lilly), Michael Douglas e Michelle Pfeiffer vão então ser sugados para o mundo quântico, onde têm que achar forma de regressar ao tamanho normal. Pelo caminho, vão ajudar a resistência local a derrubar o tirano Kang, que procura em simultâneo vingança sobre Pfeiffer, numa aventura que ganha rapidamente proporções épicas, tal é a quantidade imensa masturbação digital. Pelo caminho, Peyton Reed mantém o estilo descontraído e o humor circunstancial, se bem que neste episódio é mais difícil conseguir encontrar tempo e espaço para Paul Ruud disparar uma piada auto-depreciativa, já que o filme está sempre ocupado em mais uma criatura ou uma explosão ou uma luta (belas coreografias, btw) ou qualquer coisa mais.

No entanto, o argumento é um pouco caótico, que parece ter sido escrito à medida que ia sendo filmado. É que, seguindo quase uma lógica de jogo de vídeo, o filme vai saltando de peripécia em peripécia, muitas vezes recorrendo a deus ex-machinas para permitir sair dali. É o que acontece, por exemplo, com o cameo absolutamente dispensável de Bill Murray, que parece ter sido enxertado ali com um pé de cabra, apenas para ter o Bill Murray no filme. E o que dizer de MODOK (O regresso de Corey Stoll), que é definitivamente a personagem mais ridícula do universo cinemático da Marvel. MODOK está para a Marvel assim como Jar-Jar Binks está para o Star Wars.

Enfim, tanto Scott Lang nos quis ensinar que Homem-Formiga e a Vespa – Quantumania foi inflando, inflando, inflando, até deixar de ter qualquer interesse. E se Homem-Formiga é um dos melhores episódios do universo cinemático da Marvel, este Homem-Formiga e a Vespa – Quantumania é claramente um dos piores. O Happy Meal é tão desajeitado, quanto a decisão de trocar o casting da filha de Scott Lang/Paul Ruud, trazendo para bordo Kathryn Newton.

Título: Ant-man and the Wasp: Quantumania
Realizador: Peyton Reed
Ano: 2023

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