| CRÍTICAS | Ou Tudo ou Nada

Antes de haver Magic Mike, havia Ou Tudo ou Nada. Só que, com os corpos torneados de Channing Tatum ou Matthew McCounaughey, toda a gente parece ter-se esquecido desse pequeno filme inglês, que chegou a ombrear com Titanic na edição dos Oscares desse ano e que até deu origem a um musical homónimo na Broadway. Recentemente, a Disney transformou-o em série de televisão/sequela, disponível na sua plataforma de streaming, mas com mais duas sequelas de Magic Mike quem é que quer mesmo saber disso?

Ou Tudo ou Nada é a versão pobre e barata de Magic Mike. Ambientado nas ruínas pós-industriais de uma muito deprimida Sheffield, o filme conta a história de seis losers (desempregados, fura-vidas, velhos, gordos e carecas…) que decidem montar um espectáculo de striptease masculino para pagarem as suas dívidas, inspirados pelos Chippendales. Tendo em conta o ambiente da coisa (o interior real do Reino Unido, os sotaques carregados…), é como se estivéssemos a ver uma versão alternativa do Trainspotting (até lá anda Robert Carlyle, o irascível e infame Begbie), mas com strippers masculinos em vez de droga.

Ou Tudo ou Nada é então uma comédia desencantada, com um argumento tão previsível quanto esquemático: um bando de amigos tem uma ideia tão parva quanto improvável de ter sucesso, empenham-se a sério nisso e, depois de alguns avanços e ainda mais recuos, triunfam em grande (ou como podem), num final à Uma Família à Beira de um Ataque de Nervos, onde vão full monty – com freeze frame e tudo no momento em que mostram a pila às 400 mulheres (e alguns homens) que assistem ao espectáculo de consagração dos seus esforços. Antes do filme, full monty era uma expressão inglesa que significa ir até ao fim. Após o filme, passou a designar um stripper masculino. Até que surgiu Magic Mike e essa expressão substituiu também full monty como calão para stripper.

Tendo em conta a premissa de Ou Tudo ou Nada, havia muitos alçapões onde tropeçar e ou mesmo cair completamente. Se fosse um filme americano, certamente que o filme se apoiaria sobretudo em gags físicos, muita nudez involuntária e até alguma escatologia. No entanto, esta é uma produção inglesa e é sempre mais inteligente que isso. Apesar de não ser propriamente muito profundo nem ir mais além do que pela rama, Ou Tudo ou Nada é discreto o suficiente e ainda aflora alguns temas pertinentes, como a homossexualidade ou a objectivação das mulheres, trocando os corpos femininos pelos masculinos e pondo meio mundo dos homens a pensar na coisa.

Isso faz com que, apesar de ser uma comédia inteligente qb, Ou Tudo ou Nada nunca tenha cenas ou momentos verdadeiramente inesquecíveis ou marcantes. A excepção será, provavelmente, a cena em que, enquanto o grupo espera pela sua vez na fila para o subsídio de desemprego, começa a dar o Hot Stuff da Donna Summer na rádio e eles, involuntariamente, começam a bater o pé e a executar a coreografia que vinham a treinar. Ou seja, também essa falta de momentos facilmente reconhecíveis do filme ajudou ao seu esquecimento, na sombra de Magic Mike. Mas é um feelgood movie que continua a entreter e a ter o seu espaço nos rodapés da história do cinema, como um Double Cheeseburger que nunca é inconveniente ou demasiado datado.

Título: The Full Monty
Realizador:
Ano: 1997

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