| CRÍTICAS | Oxigénio

Os filmes com apenas uma personagem confinada num qualquer sítio tornaram-se eles próprios num sub-género do thriller e do fantástico, tal tem sido a profusão de exemplares que têm estreado nos últimos anos. Não é que seja uma coisa nova no cinema. Dantes já tivemos Doze Homens em Fúria ou Cabine Telefónica, mas foi a experiência radical de Enterrado, em 2010, que levou tudo longe demais, provando que era possível fazer filmes inteiros sem sair do mesmo sítio.

O francês Alexandre Aja, que tem vindo a brincar com vários sub-géneros do cinema de terror com igual eficácia (do slasher ao filme de criatura), atirou-se agora ao thriller-de-uma-só-pessoa-fechada-num-espaço. Oxigénio é a história de Liz (Mélanie Laurent, a Shoshanna de Sacanas Sem Lei), uma mulher que acorda fechada numa câmara criogénica. Mas Liz não vai ter só que se desenvencilhar e descobrir uma forma de sair dali de dentro, uma vez que ninguém parece ouvir os seus gritos de ajuda; vai ter também que descobrir quem é, uma vez que não se lembra de nada, além de uns flashes fugidios de eventos avulso que vão pontuando a primeira parte do filme.

Felizmente, Liz não está sozinha. MILO (voz de Mathieu Amalric) é a unidade de IA que comanda a câmara criogénica e, mesmo não sendo propriamente uma companhia, é uma ferramenta poderosa que Liz pode usar para a auxiliar. Com os recursos de MILO, Liz pode navegar pela internet, estabelecer chamadas telefónicas com o exterior ou assistir a pornografia online. Estranho que nunca escolha esta última opção… A única coisa que MILO não pode fazer, para segurança de todos, é abrir a câmara criogénica – I’m sorry, Dave, I’m afraid I can’t do that -, o que faz de Oxigénio uma mistura de Enterrado com 2001: Odisseia no Espaço.

Oxigénio é uma corrida contra o tempo, até porque o oxigénio de Liz não vai durar para sempre e Alexandre Aja aproveita para jogar com esse desespero, passando por várias fases: a recusa, a ansiedade, momentos mais racionais e lúcidos… Isso ajuda a fazer do filme uma montanha-russa psicológica, que por vezes cede à tentação de um ou outro flashback, que nos retira do interior daquela cápsula e alivia a tensão acumulada e a sensação de claustrofobia. Não são propriamente os melhores momentos de Oxigénio

Além disso, Oxigénio é um filme de ficção-científica e, por isso, o último acto é uma espécie de revelação, que procura unir todas as pontas soltas como aqueles momentos nos números de magia em que o ilusionista nos revela a conclusão do truque. Tendo em conta que os filmes de actores a solo confinados num espaço imprevisto já são, por si só, gimmicks, ter ainda mais um twist final é só mais um truquezinho, igual ao truque de magia que o ilusionista utiliza para nos enganar artificialmente. Desnecessário, se bem que Oxigénio é um exemplar eficaz do género. Não quer é dizer que seja dos melhores Double Cheeseburgers de entre todos os seus primos afastados.

Título: Oxygène
Realizador: Alexandre Aja
Ano: 2021

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