Enquanto a Disney se especializou em antropormofizar animais para falar das emoções e sentimentos humanas, a Pixar procura criar realidades alternativas para explorar outros temas universais e igualmente fracturantes das sociedades modernas. No novo Elemental, a estratégia é a mesma que já tinha sido utilizada em Zootrópolis: criar um mundo equivalente ao nosso, mas com os elementos da natureza em vez de humanos, para reflectir sobre o racismo estrutural, a luta de classes e o capitalismo.
Bem-vidos então à Elemental City, uma metrópole futurista e (dis)utópica, onde Terra, Água, Ar e Fogo vivem lado a lado, em paz. No entanto, tal como na quinta dos animais de George Orwell, aqui também são todos iguais, mas há uns mais iguais que outros. O Fogo não tem a mesma posição social dos restantes elementos e vivem de forma segregada, numa cidade que não foi claramente desenvolvida a pensar nas suas reais necessidades.
É nesta realidade que conhecemos Ember (voz de Leah Lewis) e a sua família, gerindo no dia-a-dia uma loja de conveniência que os pais ergueram com o seu próprio esforço, suor e trabalho árduo e que a primeira aguarda herdar a qualquer momento. Se bem que pareça que preferires fazer outro coisa da sua vida, mais ligada às artes…
Entretanto, uma conjugação de factores que inclui uma fuga de água gigante nos canais subterrâneos da cidade e uma ordem de fecho da loja por parte dos serviços municipalizados, vai emparelhar Amber a uma Água super-sentimental,Wade (Mamoudou Athie), numa luta contra a burocracia do poder local e o preconceito entre elementos tos, tudo isso com a devida perspectiva de classe.
Nenhum destes temas é novo no cinema da Pixar e já os vimos em todos os seus filmes anteriores. A diferença aqui é que Elemental parece pouco polido e com uma historia demasiado tipificada, que não deixa lugar a qualquer tipo de novidade. É como a theme song de Lauv (quem?), altamente desesperada e anónima. Elemental continua a abordar os problemas das relações humanas como ninguém, com grande sensibilidade e sem a infantilização do espectador, mas fa-lo numa história que tem quase sempre de avançar assente em demasiadas coincidências ou assente nos clichés de género.
Nada do que aqui está é mau, antes pelo contrário, mas quando se tem a bagagem da Pixar isso não chega. Ao menos, Elemental compensa a falta de inspiração do mundo subaquático de Luca, com mais uma animação impecável e irrepreensível. Com o Cheeseburger, Elemental é possivelmente um dos piores filmes da Pixar, o que, mesmo assim, o colocam muito à frente da maioria da animação que chega às nossas salas semanalmente. As expectativas é que são tramadas.
Título: Elemental
Realizador: Peter Sohn
Ano: 2021