| CRÍTICAS | Os Mercen4rios

Os filmes de Os Mercenários continuam a ser uma promessa de cinema por cumprir. A promessa de um antigo sonho molhado de qualquer jovem cinéfilo que tenha crescido nos anos 80, em reunir ao mesmo tempo as grandes estrelas de acção dessa década: desde os sacos de músculos como Stallone e Schwarzenegger até aos mestres da porrada, como Van Damme ou Jet Li. E continua por cumprir porque, três filmes depois, ainda nenhum encheu verdadeiramente as medidas. É certo que há uma certa tentativa em recuperar o charme dos filmes xunga da Canon, por exemplo, mas a sua estratégia tem sido apenas a da acumulação, juntando cada vez mais desses antigos action heroes.

Ainda por cima, depois de Os Mercenários 3 essa estratégia esgotou-se. É que depois da participação de Chuck Norris já não há praticamente mais ninguém vivo para juntar ao elenco. Quer dizer, Stallone continuou a alimentar o boato de que Jack Nicholson iria entrar numa possível sequela, mas mesmo tendo sido um belo Joker, este nunca foi um actor de acção. Por tudo isso, Os Mercen4rios é uma espécie de recomeço da série, apostando num novo caminho a seguir para os próximos títulos.

Os Mercen4rios estabelece assim uma nova equipa fixa de Mercenários, antigos soldados que agem a soldo fora dos radares das instituições oficiais. Stallone e Jason Statham continuam a ser as estrelas do pedaço, mas o primeiro afasta-se deliberadamente, fazendo do segundo o verdadeiro protagonista desta nova fase. A eles juntam-se 50 Cent, mantém-se timidamente Randy Couture e Dolph Lundgren e Megan Fox (quem diria que viria a tornar-se numa heroína de acção) cumpre as quotas do sexo feminino. Há ainda uma espécie de convidados especiais, com Tony Jaa (esse, o de Ong Bak – O Guerreiro) e Ike Uwais (do The Raid – Redenção). E há ainda outro regressado, Andy Garcia, como o fato que manda naquilo tudo.

É assim uma nova equipa de Mercenários que procura misturar nomes do passado com outros nomes do agora. Não é a mais interessante de todas, mas também não é de deitar fora por completo. Ou seja, não vale a pena deitar fora o bebé com a água do banho, porque há aqui matéria para trabalhar. Talvez vala a pena ir buscar alguém de Bollywood para uma próxima sequela para completar este caldeirão multicultural de porrada. Fica a dica *wink wink*, mas sem a cantoria, ok?

Posto isto, foi-se buscar para a cadeira de realizador Scott Waugh, de quem este ano já vimos outra xungaria pesada (o Projecto Extracção, com John Cena e Jackie Chan) e depois… toda a gente sentou-se e esperou que o filme acontecesse por si só. Montou-se um argumento básico e derivativo, como se a economia narrativa da série b significasse histórias preguiçosas e recicladas, usou-se e abusou-se do CGI manhoso que parece que estamos a ver um episódio do Major Alvega, enche-se os buracos com um humor misógino (sempre que entra a Megan Fox) ou totalmente sem graça (como o gag recorrente das orelhas de Couture, que basta uma vez por filme, ou o alcoolismo de Dolphie) e depois salpicou-se tudo, aqui e ali, com uma sessão de pancadaria mal editada e umas explosões gore bem fajutas. Ah, e há o bromance entre Sly e Statham que está cada vez mais homo-erótico.

No final, sobra um Happy Meal, que é este pequeno regresso de Os Mercen4rios, possivelmente o pior de toda a série. E isso já é dizer muito. É preciso que venha alguém injectar alguma vitalidade nisto, caso contrário corremos o risco da série desaparecer. E ninguém quer isso. Pelo menos, até a promessa que nos fizeram se cumprir.

Título: Expand4bles
Realizador: Scott Waugh
Ano: 2023

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