| CRÍTICAS | Wonka

Esta apanhou-nos desprevenidos. Mesmo com todo o frenesim de sequelas e prequelas, ninguém esperava um filme de origem de Willy Wonka. Além disso, Wonka estreia pouco tempo depois de Wes Anderson se ter tornado no realizador oficioso da obra de Roald Dahl, o autor da história original. Se bem que nos dois Paddington, o realizador Paul King demonstrava a influência de Anderson, por isso este novo Wonka até parecia vir em boas mãos.

Wonka é então a história de como Willy Wonka (aqui encarnado por Timothée Chalamet) se tornou no maior chocolateira-ilusionista do mundo. Não é uma prequela directa de nenhuma das adaptações que existem do livro de Dahl, mas se tivesse que estabelecer uma ilha directa com um deles escolheria o primeiro, o do Gene Wilder. Não que Wonka seja assim tão cínico e cruel, mas sobretudo por causa de algumas piscadelas de olho que faz. Prova #1) o Oompa Loompa de Hugh Grant (que continua a curtir o prato nesta sua fase da carreira, com papéis de quem se está a cagar), que tem a mesma theme song (e a linha good day sir… I said good day); Prova #2) a cantiga Pure Imagination é copiada, num solo de Chalamet numa cena pivotal.

Depois de anos a palmilhar o mundo, Wonka regressa então à cidade natal da mãe (Sally Hawkins, uma das habitués de Paul King) para montar a melhor loja de chocolate do mundo. O que não estava à espera era de dar de frente com um cartel que controla a doçaria da cidade, com a ajuda do clérigo local (um regressado Rowan Atkinson, mas sem a oportunidade de ter qualquer momento memorável) e dos padres chocólicos(!). Ainda pior, Wonka vai ficar refrém de Olivia Colman, com quem assina um contrato legalmente duvidoso, que o tornam praticamente escravo na sua lavandaria. É aí que vai travar amizade com um grupo de companheiros que vão ser os seus aliados e irmãos de armas nesta aventura, com destaque para Noodles (Calah Line), a jovem órfã do bando.

Wonka desenrola-se então um ambiente de realismo mágico, povoado de trocadilhos fáceis e gags físicos, muito próximo dum Paddington, mas sem a ingenuidade desse e sem o niilismo do Willy Wonka de Gene Wilder. Wonka é ainda um musical, a meio caminho das canções do Annette e o sentido de maravilhamento do La La Land – Melodia de Amor, mas surpreendentemente revela-se um filme algo baço. Nisto, o Wonka de Tim Burton acertava em cheio no tom, sendo um filme bem mais brilhante e colorido.

Parece haver assim dificuldade por parte de Paul King em acertar no tom correcto de Wonka. Não é que não tenha o coração no sírio certo, mas falta-lhe a parte do arrebatamento, que é precisamente o que Willy Wonka nos promete desde o primeiro momento que surge no ecrã. E é por isso que o Double Cheeseburger sabe mais a desilusão do que a sucesso. Felizmente, a sua carreira fez-se no chocolate e não nas hamburgas.

Título: Wonka
Realizador: Paul King
Ano: 2023

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *