| CRÍTICAS | Aquaman e o Reino Perdido

Sempre que vejo um filme da DC prometo que vai ser o último. Mas não sei se é o síndrome de Estocolmo ou algum fetiche sado-maso, mas acabo sempre por ver mais um. Quando vi o Blue Beetle jurei a mim mesmo pela enésima vez que era a última oportunidade que dava à DC. E agora aqui estou a queixar-me pela enésima vez e um do Aquaman e o Reino Perdido. Enfim, desta é que vai ser. Vou deixar de dar dinheiro a este peditório. E já que Aquaman e o Reino Perdido marca o último filme desta fase do universo cinematográfico expandido da DC, talvez seja um sinal para eu parar de me massacrar.

Depois do injustificado sucesso de Aquaman, Aquaman e o Reino Perdido mantém praticamente toda a gente fiel à máxima de que em equipa que ganha não se mexe. James Wan continua na cadeira de realizador, a gozar de um crédito que ainda ninguém percebeu muito bem como é que amealhou, Jason Mamoa continua a ser o motoqueiro-super-herói-alfa-cool-agora-rei-dos-mares, o irmão que estava preso mas que vai deixar de estar porque tem uma boa química com Mamoa também regressa (Patrick Wilson), Yahya Abdul-Mateen II volta a ser o Black Manta mesmo que tenha sido um vilão extremamente infeliz no primeiro filme e Nicole Kidman assume o papel de mentora desta gente toda, substituindo Willem Dafoe, que teve de se ausentar por motivos de agenda (ou, pelo menos, foi a desculpa oficial que ele deu). A única pessoa que viu a sua presença ser reduzida ao mínimo foi Amber Heard, à conta de todo o ódio digital que continua a acumular por aí desde o mediático divórcio de Johnny Depp, que aparece apenas o tempo suficiente para cumprir a quota necessária.

Quanto ao filme, Aquaman e o Reino Perdido volta a ser esquemático e funcional qb, saltando de cena de acção em cena de acção numa lógica derivativa e quase action driven. Mais uma vez, está lá a mensagem ambiental oportunista, tão óbvia que não era preciso esfregarem-na na nossa cara. Black Manta regressa então, possesso pelo espírito do antigo rei do sétimo reino perdido dos oceanos, que procura o poder absoluto através de uma fonte de energia altamente poluidora, que está a fazer avançar o aquecimento global em mil por cento. Os Atlantes têm que pôr um ponto final nisto e, de preferência, com a ajuda dos humanos, caso queiram continuar a manter o mesmo estilo de vida de até então. Onde é que eu já isso?

É difícil levar a sério um filme que se passa de baixo do mar, com um herói que cavalga um cavalo-marinho gigante ou que tem como sidekick um polvo (que tem tanto tempo de antena quanto a Amber Heard – ou seja, nenhum), e parece que apenas Jason Mamoa acerta no tom certo para isso, sem se levar muito a sério, mas também sem cair na comédia parola. Todos os outros parece que estão numa representação qualquer de Shakespeare e é difícil engolir isso. Nicole Kidman, por exemplo, está sempre em sofrimento. Ou será que é porque está mais do que arrependida por ter aceite isto?

No fim, há muita luta, muita explosão, muita coisa a brilhar e o som sempre demasiado alto, mas chegamos ao final e nem percebemos muito bem o que vimos. Aliás, quase que jurava que fartei-me de ouvir uma tipo a dar instruções aos soldados maus sempre em português. E esperem lá, mas não andou por lá também Randall Park exactamente com a mesma personagem do WandaVision, da Marvel? Não, não me vão dizer que são duas personagens diferentes que eu não acredito. Que confusão é este Happy Meal.

Título: Aquaman and the Lost Kingdom
Realizador: James Wan
Ano: 2023

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