Nesta altura do campeonato já é difícil perceber como nos sentir perante a insistência da Sony em continuar a fazer filmes de super-heróis e a criar o seu próprio universo cinematográfico do Homem-Aranha(!). Aquilo que até há alguns filmes atrás podia ser visto como tenacidade, depois passou a teimosia e, agora, é simplesmente estupidez. Como é mesmo aquela citação que toda a gente partilha no Facebook, do Einstein ou do Bob Marley? Carpe diem, não, não é essa. Insanidade é fazer a mesma coisa e esperar resultados diferentes, esta mesmo.
Numa altura em que todos os filmes de super-heróis, da Marvel à DC, parecem rivalizar entre si para ver qual o pior, Madame Web tem-se destacado pelas críticas negativas que tem coleccionado. Claro que uma grande parte do ódio destilado online vem dos incels desta vida. que nem sequer viram o filme e estão só zangados por ter quatro protagonistas femininas. Mas quando alguém diz que, perto deste, o Morbius parece o O Cavaleiro das Trevas, isso já começa a ser crueldade a mais. E, claro, também não ajudou a própria estrela do filme, Dakota Johnson, andar a gozar com ele ainda antes sequer da estreia.
Consta que, originalmente, Madame Web web bem diferente. Uma espécie de versão do Exterminador Implacável, em que Tahar Rahim regressava atrás no tempo para matar a mãe de Peter Parker antes desta o conceber. Depois o filme foi reescrita e… deu cocó. A Sony parece ter gostado do conceito de As Marvels. com um conjunto de três heroínas que são a variação da mesma e optou por fazer o mesmo com três proto-Mulheres-Aranha. Mas tendo em conta o resultado de As Marvels, estamos mesmo a ver onde vai parar Madame Web, não é?
O início do filme agoira logo o pior. Depois de um breve prólogo na selva do Peru, onde a muito grávida mãe de Dakota Jonhson procura uma aranha rara com super-poderes medicinais e acaba traída por Tahar Rahim, saltamos para o presente – que, no filme, é 2003 -, onde a já crescida Dakota Johnson é uma paramédica do INEM. A edição é desastrosa, os diálogos incipientes e a acção construída por camadas, com as coisas a acumularem-se em vez de se encadearem.
Depois a coisa vai melhorando aos poucos e deixa de ser o desastre anunciado que é. Depois de uma experiência de quase-morte, Dakota Johnson descobre que consegue ter uns flashes do futuro e assim antever o que vai acontecer e começa então o filme de origem de Madame Web, personagem secundária da Marvel que agora ganha um filme em nome próprio. Ao mesmo tempo que procura entender os seus poderes, Dakota Johnson tem ainda de proteger três miúdas (Sydney Sweeney, Isabela Merced e Celeste O’Connor), que conhece aleatoriamente, do próprio Rahim – um vilão que parece estar no filme apenas para matar todas as mulheres que possam ter pelo menos duas linhas de fala… – antes de elas crescerem, tornarem-se elas próprias em heroínas aracnídeas e o matarem a ele. Estão a ver onde foi parar aquela ideia do Exterminador Implacável?
Sejamos sinceros: Madame Web não é assim tão bera. É um mau filme, mas dá facilmente 3 de avanço ao Morbius e até ao Venom e ainda ganha de capote. O filme é uma jagunça, Dakota Johnson não tem propriamente carisma (mesmo assim não é tão má quanto Brie Larson), o product placement da Pepsi tem mais presença do que os actores e a trama faz tanto sentido quanto ananás na pizza.Aliás, há uma cena em que Dakota Johnson quer descobrir mais sobre o que a sua mãe fazia e então apanha um avião para a selva do Peru, casa da família do Paddington, onde encontra em poucos minutos o povo mítico e oculto dos Arañas e que lhe revelam tudo o que precisa saber(!). Mas, ao menos, Madame Web não tem pretensões em ser mais do que desmiolado action movie para adolescentes, com uma boa cena final cheia de cor e fogo-de-artíficio (literalmente). Não deixa de ser um Happy Meal, mas estava à espera que me desse uma intoxicação alimentar também. E não deu.
Título: Madame Web
Realizador: S. J. Clarkson
Ano: 2023