Amy Winehouse morreu trágica e precocemente em 2011, tornando-se no mais recente membro do infame Clube dos 27 e passando a integrar a mitologia do rock n’ roll. Até porque a sua morte aconteceu depois de um processo de auto-destruição que todos acompanhámos com grande sensacionalismo voyeur, fazendo com que continue a ser muito difícil distinguir o que é realmente relevante e legitimidade music dos fait-divers da sua vida pessoal.
Back to Black, o biopic que Sam Taylor-Johnson assina, poderia ser o filme que vinha ajudar a fazer essa tarefa, mas não o é. Amy, o documentário de Asif Kapadia, pode não ser o título definitivo sobre a autora de Rehab, mas está muito mais próximo desse objectivo do que este Back to Black.
A primeira grande pecha de Back to Black é aquele que é o grande pecado da maioria dos biopics: o de gostar em demasia dos seus retratados. Back to Black endeusa Amy Winehouse como uma predestinada para a música, capaz de se sentar na cama com a guitarra e criar de uma assentada uma das canções, letra e acordes completos. Além disso, leva essa adulação tão longe que acaba por higienizar em demasia o filme. Há o álcool (e as drogas) e a relação tempestuosa com Blake Fielder-Civil (Jack O’Connell), mas é tudo embrulhado com um carimbo cor-de-rosa.
Essa é a segunda pecha de Back to Black. Ao querer centrar-se na relação entre Winehouse e Fielder-Civil, o filme acaba por deixar de fora a música. O que não deixa de ser irónico num filme sobre Winehouse. Existem muitos momentos ao vivo, alguns que até mimetizam uns que reconhecemos do YouTube, mas são apenas um pretexto para a actriz Marisa Abela (quase quase a roçar o overacting) gravar e interpretar com a sua própria voz os temas da cantora e a produtora facturar uns trocos com a banda-sonora. De fora ficam todos os momentos de ensaio, escrita, gravações… Até Mark Ronson, que chega a ser nomeado, nunca chega a aparecer.
Back to Black é assim um filme que se esforça sempre muito em retirar as roupas, os penteados e as tatuagens de Amy Winehouse, mas que nunca coloca o mesmo empenho na construção narrativa ou no desenvolvimento das personagens. Tudo acontece sempre muito rapidamente e aparentemente sem razão, como se o filme fosse apenas um caderno de encargos que tivesse de compilar uma lista de momentos da vida da cantora. Não estivéssemos a falar de Amy Winehouse e o Cheeseburger era um desastre bem maior.
Título: Back to Black
Realizador: Sam Taylor-Johnson
Ano: 2024