Com pezinhos de lã e sem levantar muitas ondas, o franchise de O Planeta dos Macacos continua a ser o mais consistente e sólido de todos os universos cinematográficos que entopem as salas de cinema regularmente. Desde que Planeta dos Macacos – A Origem recuperou uma série com mais de 40 anos que assistimos a uma trilogia bem construída, que não dispensou uma história completa em detrimento do fogo-de-artíficio, como agora parece ser norma em todos os grandes blockbusters. E, mesmo assim, a maior surpresa é mesmo a pouca atenção que parece continuar a ter.
Agora, O Reino do Planeta dos Macacos inicia uma nova trilogia, iniciando-se 300 anos após os acontecimentos de Planeta dos Macacos – A Guerra. Uns curtos cartões iniciais dão-nos o contexto: Caesar morreu e apenas as suas palavras e ideias se mantêm vivas, ainda que deturpadas pelo tempo e pela interpretação dos macacos anciões actuais, ao mesmo tempo que a espécie continua a evoluir e os humanos a definhar, graças ao vírus criado uns filmes atrás.
É neste contexto que somos introduzidos ao Clã das Águias, uma tribo de macacos que criam águias, porque um macaco a andar a cavalo armado não era badass o suficiente. Noa (Owen Teague), Soona (Lydia Peckham) e Anaya (Travis Jeffery) são três amigos na véspera do ritual de passagem, que todos anseiam com grande expectativa. Mas é precisamente nessa noite que as tropas de Proximus Caesar (Kevin Durand), um macaco autoritário com sede de poder, arrasam a aldeia e capturam o clã, levando-o para as suas instalações.
Cabe agora a Noa encontrar os seus e, talvez, alguma vingança que lhe sossegue a alma e o coração. Mas O Reino do Planeta dos Macacos tem pouco de vengeance movie, ainda que a estrutura esteja lá. É mais um filme de passagem, um coming of movie, ou esse não começasse precisamente na véspera desse ritual na tribo de Noa. O realizador Wes Ball descreveu O Reino do Planeta dos Macacos como o Apocalypto, mas com macacos, e a descrição é acertada. Noa vai embarcar numa aventura e, no final dessa viagem, não só vai ser um indivíduo diferente, como o seu próprio mundo vai dar uma cambalhota de 180 graus.
Noa começa por viajar sozinho, depois une-se a Raka (Peter Macon), um sábio orangotango que lhe explica quem foi Caesar e como o mundo é na verdade, e mais tarde a Mae (Freya Allen), uma humana que afinal não tem nada a ver com as tribos de homens ferozes e selvagens a que estava habituado a ver ao ar livre. Mais tarde ainda se irão cruzar com William H. Macy, que o ajudará a compreender o que falta. É, portanto, um filme em crescendo, em que o build up vai acumulando vários temas e tópicos, como se Wes Ball estivesse a preparar uma cataplana, com as várias camadas de peixe.
No final, a coisa explode em grande, com um climax de grande destruição e matança entre os clãs de Proximus Caesar e Noa, com os humanos à mistura, ou não fosse isto um blockbuster. Mas o melhor é que a edição é sempre legível e, mesmo não tendo a elegância dos filmes anteriores de Matt Reeves, é bastante competente e eficaz. E O Reino do Planeta dos Macacos até tem coragem para não ser politicamente correcto, quando algumas mortes acontecem de forma inesperada, por serem o único meio de atingir um fim maior.
No final, O Reino do Planeta dos Macacos ainda escancara a porta às sequelas e a uma nova trilogia, onde os macacos e os humanos se vão enfrentar novamente pelo topo da pirâmide evolutiva, num filme que acaba por ser sobre o especismo. No fundo, esta é também um tópico de discussão que deve ser incorporado quando se fala da sustentabilidade ambiental para o futuro do nosso planeta. Apesar de ainda estamos a meio de 2024, aposto que O Reino do Planeta dos Macacos vai ser o melhor blockbuster do ano, com um McRoyal Deluxe redondinho e eficaz.
Título: Kingdom of the Planet of the Apes
Realizador: Wes Ball
Ano: 2024