| CRÍTICAS | Abigail

Existe uma tendência no TikTok, conhecida por “Never let them know your next move”, que consiste me fazer uma série de movimentos imprevisíveis que não correspondem nunca ao que a acção implica. O cinema de Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett parece-se com isso. Por mais que tentemos adivinhar a próxima cena, ele dá sempre uma guinada, tira-nos o tapete de baixo dos pés e surpreende-nos pela enésima vez.

O novo Abigail é assim, tal como já o era Ready or Not – O Ritual: um filme de terror de braço dado com o filme de acção, altamente conceptual. Começa por ser um filme de rapto, torna-se num filme de casa sitiada e termina no filme de vampiros, tudo temperado com explosões gore de sangue, tão vermelhão quanto viscoso, que fará as delícias do Peter Jackson dos tempos de Morte Cerebral.

Há então um grupo de bandidos, cada qual com a sua especificidade e personalidade bem marcada, que são contratados para raptar uma miúda bailarina (Alisha Weir) e guardarem-na por 24 horas, numa mansão vitoriana, enquanto o pai paga o resgate. Giancarlo Esposito, que representa o contratante, dá-lhes instruções precisas, ordena que não partilhem os seus nomes verdadeiros para não criarem relações de proximidade e baptiza-os como nomes próprios do rat pack (incluindo Don Rickles).

É uma espécie de Cães Danados (ainda mais) estilizado e, por momentos, isso chega. É também a parte mais interessante de Abigail. A personalidade de cada uma daquelas personagens vem ao de cima e começam a chocar de frente, com destaque para o stoner Angus Cloud (no seu último papel antes da morte precoce por overdose). Depois descobre-se que Abigail, a menina raptada, é filha do rei do crime local e isso é mais uma pedrinha na engrenagem do filme. E, depois ainda, descobre-se que… Abigail é uma vampira(!!) sedenta de matança.

Trancados na mansão como carne no matadouro, Abigail vai ser mais uma pela sobrevivência e um creature movie do que um filme de vampiros tradicional. E Bettinelli-Olpin e Gillet parecem começar a perder o controlo nessa loucura extravagante, aumentando cada vez mais os níveis de carnificina e de sangue despejado. Abigail é bem mais interessante na química que cria entre o seu (anti)herói colectivo, no humor afiado sempre na ponta da língua (destaque para Kevin Durand, que parece um Elon Musk inflado num saco de músculos) e na forma como quebra sempre as expectativas , do que no frenesim gore e na matança do porco. Já Ready or Not – O Ritual era assim, mas enquanto esse se pedia totalmente pelo caminho, este consegue manter alguma réstia do crédito acumulado, ficando-se pelo McChicken.

Título: Abigail
Realizador: Matt Bettinelli-Olpin & Tyler Gillett
Ano: 2024

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