A única coisa que explica que o nunexploitation não seja mais explorado hoje em dia é o pudor. Basta ver como os filmes de exorcismo continuam populares e a proliferar. Afinal de contas, a simbologia cristã é bastante apelativa, sendo visual e esteticamente interessante. Além disso, a profanação religiosa mexe-nos algures cá dentro, não importa o quão crente somos.
Por isso, a única coisa que impede que haja mais filmes com freiras possuídas ou ameaçadas por entidades malignas é mesmo o pudor. É que, neste sub-género, além da profanação religiosa, há outra coisa ameaçada: o corpo feminino. No nunexploitation há uma dupla profanação, que torna tudo mais intenso.
Enquanto que no último par de anos houve não sei quantos filmes de exorcismo, incluindo mais um spin-off do clássico de William Friedkin, Imaculada é apenas o segundo nunexploitation a seguir ao dístico The Nun – A Freira Maldita. E é um filme que tem tudo o que o género promete: freiras, entidades malvadas do além e um sub-texto sobre o corpo da mulher, que num filme melhor podia servir para ir mais fundo na reflexão acerca do consentimento.
Sydney Sweeney é uma jovem freira norte-americana que acaba de chegar a um convento italiano, onde vai cumprir os seus votos. Esse é apenas mais um factor que vai aproximar Imaculada do giallo, um outro sub-género a quem o nunexploitation muito deve. Aliás, as cenas de Sweeney a aterrar em Itália e a dirigir-se para o convento evoca necessariamente a chegada à escola de dança na Alemanha, em Suspiria. Por isso, em poucos minutos, já nem nos lembramos do curto prólogo que abre o filme, em que uma noviça feita procura escapar do convento e acaba enterrada viva.
Por entre aparições, freiras velhinhas à beira da demência e dificuldades de integração, Imaculada procura criar ambiente e jogar com o suspense em vez de se limitar a jump scenes ou a sustos mais gráficos. Até que Sydney Sweeney surge grávida por concepção divina e o milagre é anunciado. Mas todos já vimos A Semente do Diabo para saber que este tipo de milagres não existe.
Imaculada é um eficaz série b, que não se limita a ser derivativo e procura ter alguns toques de personalidade. Não é que seja particularmente bem-sucedido, mas quantos Cheeseburgers de terror vemos estrear anualmente nas nossas salas de cinema? Por isso, sendo um nunexploitation, isso é ainda mais impressionante.
Título: Immaculate
Realizador: Michael Mohan
Ano: 2024