Existem filmes que só necessitam de uma ideia para existir. Veja-se Quentin Dupieux, por exemplo, que tem feito uma carreira de filmes assentes apenas nas suas próprias premissas: um pneu assassino, um casaco de camurça possuído, etc. Mas existem ideias que são demasiado breves para serem um filme completo.
Tarot – Carta da Morte é um filme de uma ideia só, mas que se revela manifestamente curta. Até porque não é uma ideia propriamente boa ou original. Ora vejam: uma entidade maligna que mata as suas vítimas de acordo com as cartas do tarot. Meh! Tudo isto soa logo a lugar comum e ainda pior é quando percebemos que está tudo colado com cuspo e os buracos no argumento são preenchidos com todos os clichés possíveis do género.
Tarot – Carta da Morte começa com um grupo de adolescentes numa mansão isolada, a festejarem o aniversário de uma delas (Harriet Slater). Esperamos que a coisa evolua para o slasher, mas não. É apenas o prólogo para o que aí vem – os créditos só aparecem ao fim de 17 minutos, porque parece que isso agora é algum tipo de gesto artístico. Numa cave trancada, os jovens descobrem um baralho de tarot e a aniversariante lê a sina a todos eles. Plot twist: ficam todos amaldiçoados e destinados a morrer de acordo com essa previsão, qual final O Último Destino.
A partir daí é um desfile de lugares-comuns, em que nem sequer as mortes fazem sentido, já que têm que obedecer às respectivas cartas do baralho. E, ao contrário de O Último Destino, as mortes não têm nada de gore ou imaginativo. Herói colectivo de miúdos que vão morrendo um a um? Confere. Artefacto antigo que leva a uma maldição? Confere. Senhora velhinha a quem ninguém dá credibilidade, mas que sabe exactamente o que está a acontecer? Também confere. Espécie de twist inteligente para estender a coisa até à hora e meia de duração? Yep, adivinharam, confere.
Tarot – Carta da Morte é assim um filme de terror altamente desesperado, feito única e exclusivamente a partir e sustos e jump scares, que se esgota rapidamente e faz com que o resto seja apenas um suplício. E, no pós-créditos, ainda tem o descaramento de escancarar um plot hole gigantesco, apenas para manter vivo o irritante Jacob Batalon, a quem tinha calhado o cargo de comic relief. Como se a Hamburga de Choco não fosse já mau o suficiente.
Título: Tarot
Realizador: Spenser Cohen & Anna Halberg
Ano: 2024