| CRÍTICAS | Boa Noite, Mamã (2022)

É preciso começarmos a estimar mais Naomi Watts e a reconhecermos o seu contributo para o cinema de terror anglo-saxónico. Não só é a maior scream queen da sua geração, como tem refeito em língua inglesa muito cinema do mundo do género, dando-lhe uma visibilidade acrescida. Começou com o The Ring – O Aviso, passou pelo Brincadeiras Perigosas e, mais recentemente, terminou com este Boa Noite, Mamã, que refaz o homónimo austríaco que deixou muita gente desconfortável em 2014.

Boa Noite, Mamã é a história de dois irmãos gémeos (Cameron e Nicholas Crovetti) que regressam à casa da mãe (Naomi Watts) para uma temporada, depois de um período de ausência. Não sabemos o que levou a esse afastamento, até porque o filme nunca gosta de nos entregar toda a informação directamente, mas aos poucos vamos identificando alguns sinais importantes: a mãe parece ser (ou ter sido) uma celebridade famosa (e isso é relevante para o que aí vem), a relação com o pai dos filhos já parece ter tido melhores dias e os miúdos estão tão às escutas com todo este processo quanto nós. E, por isso, quando Naomi Watts se revela com uma máscara que lhe cobre toda a cabeça, recuperando de uma qualquer operação cirúrgica facia, a primeira reacção é de choque.

Há qualquer coisa na ausência de expressões faciais em Naomi Watts que causa desconforto. Afinal de contas, já todos vimos o Olhos Sem Rosto, não é verdade? Mas há também algo de errático no comportamento da mãe que começa a deixar os irmãos desconfiados. Mas há mais. Um celeiro onde não podem entrar, explosões de raiva inesperadas da mãe, uma ausência de afectos inexplicável e muito vinho e comprimidos. Saúde mental, depressão pós-maternidade ou espírito maternal são algumas das reflexões que o filme traz para a mesa. Mas os manos têm ainda outra possibilidade: aquela mulher é uma impostora que substituiu a sua mãe verdadeira.

Poderão ter alguma razão ou não passará tudo da imaginação fértil das crianças? O grande trunfo de Boa Noite, Mamã é mesmo a forma como nos deixa na dúvida e nos faz mesmo crer que os miúdos podem ter razão. É certo que dispensávamos os pesados que um dos irmãos começa a ter, porque o filme já é perturbador o suficiente na sua aparente estranheza da normalidade. E, entretanto, Cameron e Nicholas decidem tomar a empreitada com as próprias mãos, já que ninguém parece acreditar neles.

Prendem a mãe à cama e, de repente, eis Naomi Watts a lutar pela vida mais uma vez. E desta vez a invasão caseira veio de dentro. Qual foi a última vez que vimos um filme que subverte a relação entre pais e filhos e obriga estes últimos a terem de confrontar os primeiros pela força? Boa Noite, Mamã é particularmente inspirado na forma como explora estas tópicos. No final, há ainda um twist final, que é um parente não muito distante de O Sexto Sentido, que serve para arrumar todas as pontas soltas de Boa Noite, Mamã e lhe entregar de bandeja o McBacon final.

Título: Goodnight Mommy
Realizador: Matt Sobel
Ano: 2022

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *